Conquistar a Honra
Conquistar a honra não é senão revelar as virtudes e os valores do homem, sem desvantagens; porque alguns procuram e solicitam a honra e a reputação, mas nas suas acções deixam muito a desejar; tais homens são daqueles a respeito dos quais se fala muito, mas que no fundo ninguém admira; outros, pelo contrário, escurecem as suas virtudes na aparência, para que sejam sobrevalorizadas na opinião. Aquele que leva a cabo uma coisa que nunca tinha sido tentada antes, ou que tinha sido abandonada depois da tentativa, ou realizada em melhores circunstâncias, ganhará com isso maior honra do que se tiver efectuado uma coisa de maior dificuldade, ou de maior mérito, em que tivesse já havido um precursor. Se um homem regula as suas acções de maneira a satisfazer em algumas todos os partidos ou agrupamentos, maior conceito de elogios haverá de obter.
Mau gerente da sua honra será aquele que empreenda uma acção cujo insucesso lhe possa causar desgraça maior do que a glória que lhe adviria do sucesso. A honra que é recebida e que vai quebrar-se sobre outrem é a que tem mais brilhantes reflexões; como os diamantes talhados com várias faces. Por isso deve o homem esforçar-se por ultrapassar os seus émulos em questão de honra,
Textos sobre Elogios
27 resultadosSe Pudesses Estar Comigo Vinte e Quatro horas do Dia
Se pudesses estar comigo durante as vinte e quatro horas do dia, observar cada gesto meu, dormir comigo, comer comigo, trabalhar comigo, tudo isto não poderia ter lugar. Quando me vejo afastado de ti, penso em ti constantemente e isso dá cor a tudo o que eu diga ou faça. Se soubesses o quão fiel te sou! Não apenas fisicamente, mas mentalmente, moralmente, espiritualmente. Aqui não há qualquer tentação para mim, absolutamente nenhuma. Estou imune a Nova Iorque, aos meus velhos amigos, ao passado, a tudo. Pela primeira vez na minha vida, estou completamente centrado em outro ser… Em ti. Sinto-me capaz de dar tudo, sem ter medo de ficar exaurido ou de me ver perdido. Quando ontem escrevi no meu artigo que «se eu nunca tivesse ido para a Europa…», não era a Europa que tinha em mente, mas sim tu.
Mas não posso dizer isso ao mundo num artigo. Tu és a Europa. Pegaste em mim, um homem despedaçado, e tornaste-me completo. E não hei-de desintegrar-me — não existe o menor perigo disso. Mas agora vejo-me mais sensível, mais receptivo a qualquer sinal de perigo. Se te persigo loucamente, se te imploro para ouvires, se fico à tua porta e espero por ti,
Um Bom Pai
Um bom pai não é aquele que nunca perde a paciência, mas é aquele que dialoga muito com os seus filhos, que tem prazer em entrar no mundo deles, que não os deixa do lado de fora da sua história. Ninguém tem filhos sabendo o que é ser pai. Ser pai exige um constante treino, em que os erros corrigem as rotas e as lágrimas acertam os caminhos. Educar filhos é uma tarefa complexa. Costumo brincar e dizer que os melhores filhos para serem educados são os dos outros e não os nossos. E fácil educar os filhos dos outros, pois não temos vínculos nem dificuldades com eles. Sem vínculo, o amor não cresce, mas onde há vínculos há sempre problemas e atritos. Não acredite em manuais mágicos de educação. Acredite na sua sensibilidade.
A melhor educação que os pais podem dar aos seus filhos é dividir a sua história com eles. O melhor treino da emoção é falar das suas frustrações, dos seus momentos de hesitação, das suas conquistas, dos seus sonhos, dos seus erros. Nunca houve tantos divórcios, mas o ser humano não deixa de se unir. Porquê? Porque viver em família é uma das experiências mais prazerosas da existência.
O Engraxanço e o Culambismo Português
Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele.
Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.
Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores,os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc… Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso.
Ninguém Gosta de Ser Considerado Vaidoso
No seu coração, os homens desejam ser estimados, mas eles cuidadosamente ocultam esse desejo porque querem passar por virtuosos e porque o desejo de receber da virtude qualquer vantagem além dela mesma não seria ser virtuoso, mas amar a estima e o elogio — ou seja, ser vaidoso. Os homens são muito vaidosos, mas não há nada que eles mais detestem do que serem considerados vaidosos.
O Preço da Independência
Por outro foste preterido num banquete, num elogio, na audição de um conselho. Caso se trate de provas de consideração, que o teu coração se alegre por esse outro com tais provas ter sido distinguido. Se coisas más são, não te lamentes por não teres sido convidado para o banquete, não teres merecido o elogio, não terem recorrido ao teu conselho. Que não te esqueças nunca do seguinte: se nada fazes para obteres o que não depende de nós (ao contrário dos outros que assim procedem) de maneira nenhuma podes aspirar às mesmas vantagens.
Na verdade, como se pode reconhecer os mesmos direitos àquele que se atreve às coisas do mundo e àquele que as menospreza? Àquele que integra um séquito e àquele que o não integra? Àquele que elogia e louva e àquele que não louva nem elogia? Insaciável e injusto tu serás, se, não sendo pródigo no preço pelo qual tais coisas se vendem, essas mesmas coisas, que regalias são, pretendas receber graciosamente.Sabes tu por quanto se vendem as alfaces? Supõe que por um óbolo, a mais pequena das moedas gregas. Qualquer um, então, é pródigo com o seu óbolo e sem mais adquire as alfaces.
Os Amigos dos Outros
Faz grandes elogios de alguém na presença de um terceiro. Se este se mantém calado, é porque não é amigo do primeiro. O mesmo poderás adivinhar se ele desviar a conversa para outro assunto, se mal responde, se se esforça por moderar os teus elogios, se se diz mal informado acerca da pessoa em causa ou ainda se se lança no elogio de pessoas que nada têm que ver.
Podes igualmente mencionar um acto admirável praticado por essa pessoa – um acto acerca do qual sabes que o teu interlocutor está perfeitamente ao corrente – para veres se aproveita ou não para o valorizar. Reagirá, talvez, dizendo que, nesse caso, foi uma questão de sorte ou que a Divina Providência é, por vezes, muito pródiga. Ou então aproveitará para gabar proezas ainda mais notáveis de outros. Pode ainda afirmar que essa tua pessoa se limitou a seguir um bom conselho.
Confiança Cómoda
A maior parte da nossa confiança nos outros é frequentes vezes constituída de preguiça, egoísmo e vaidade: preguiça quando, para não investigar, vigiar e agir, preferimos confiar em outrem; egoísmo quando a necessidade de falar dos nossos negócios nos leva a confidenciar-lhes algo; vaidade quando uma coisa nos torna orgulhosos. No entanto, exigimos que se honre a nossa confiança.
Por outro lado, nunca deveríamos irritar-nos com a desconfiança, pois nela reside um elogio à probidade, ou seja, é a admissão sincera da sua extrema raridade que faz com que entre no rol das coisas de cuja existência duvidamos.
És Linda
És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusão. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços da angústia do olhar. Não esqueci a intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar. És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.
A Embriaguez e Seriedade da Juventude
Passada a adolescência, é possível conhecer-se alegrias, mas não já a embriaguez. Tapar os buracos das peúgas uns com os outros! Ter medo de perder o comboio! Ter o dinheiro à justa para a viagem e recear que à última hora um irmão ainda a dormir surripie a quantia! Talvez porque a embriaguez venha do facto da inquietação e das hesitações se tornarem mais angustiantes quando tudo se ignora. Não teria qualquer aventura amorosa em Nantes? Quem diz «amor» diz pistola, e pistola era coisa que eu não tinha. Ora o que nesta viagem mais me surpreendeu foi terem-me reconhecido, em casa de um sapateiro, por certa parecença com uma velha parente minha e o elogio que ouvi fazerem dessa criatura cuja vida eu considerava nula. Os jovens levam tudo a sério, ainda que não saibam conferir um ar sério àquilo que levam. Na realidade, experimentam apenas emoções desproporcionadas.
A Imprensa Privada
Eu não tenho nada contra a imprensa privada. Venha ela, óptimo! Simplesmente, o capitalismo português que alimenta a imprensa privada, é o capitalismo que gosta que lhe publiquem o dia dos anos no jornal e a sua pose num «cocktail»… Isto é um exemplo anedótico. Não é capaz daquela simulada isenção, de dizer: se for preciso critiquem-me para disfarçar. Temos uma imprensa privada um pouco provinciana, de elogio velado ou mesmo aberto às fontes económicas que a sustentam. Assinalam-se excepções, naturalmente.
Temos uma imprensa privada um pouco provinciana, de elogio velado ou mesmo aberto às fontes económicas que a sustentam. Assinalam-se excepções, naturalmente.
O Sábio Face à Vida
Existe acaso alguém a quem possas colocar acima do sábio? O sábio tem, sobre os deuses, opiniões piedosas. Não teme a morte em momento nenhum, considera-a o fim normal da natureza, julga que o termo dos bens é fácil de atingir e de possuir, sabe que os males têm uma duração e uma gravidade limitadas; sabe o que é mister pensar da fatalidade, da qual se constuma fazer uma ama despótica. Sabe que os acontecimentos nascem, uns da fortuna, outros de nós próprios, porque a fatalidade é cega e a fortuna inconstante; que o que vem de nós não está submisso a nenhuma tirania, sujeito a reproche e a elogio.
Com efeito, melhor fora acreditar nas narrativas mitológicas sobre os deuses que tornar-se escravo da fatalidade dos físicos. A mitologia consente a esperança de que, honrando os deuses, poderemos dispô-los a nosso favor, enquanto a fatalidade é inexorável. O sábio não crê, como o vulgo, que a fortuna seja uma divindade, pois um deus não pode agir de maneira desordenada. Nem é, para ele, uma causa, dada a sua instabilidade. Não a admite como causa do bem e do mal, ou da vida feliz; não obstante, sabe que pode trazer grandes bens ou grandes males.
O Prazer do Beneficiador é Sempre Maior do que o do Beneficiado
– Não me podes negar um facto, disse ele; é que o prazer do beneficiador é sempre maior do que o do beneficiado. Que é o benefício? É um acto que faz cessar certa privação do beneficiado. Uma vez produzido o efeito essencial, isto é, uma vez cessada a privação, torna o organismo ao estado anterior, ao estado indiferente. Supõe que tens apertado em demasia o cós das calças; para fazer cessar o incómodo, desabotoas o cós, respiras, saboreias um instante de gozo, o organismo torna à indiferença, e não te lembras dos teus dedos que praticaram o acto. Não havendo nada que perdure, é natural que a memória se esvaeça, porque ela não é uma planta aérea, precisa de chão. A esperança de outros favores, é certo, conserva sempre no beneficiado a lembrança do primeiro; mas este facto, aliás um dos mais sublimes que a filosofia pode achar em seu caminho, explica-se pela memória da privação, ou, usando de outra fórmula, pela privação continuada na memória, que repercute a dor passada e aconselha a precaução do remédio oportuno.
Não digo que, ainda sem esta circunstância, não aconteça, algumas vezes, persistir a memória do obséquio, acompanhada de certa afeição mais ou menos intensa;
A Actualidade em Poesia
Uma coisa é poesia actual, outra coisa é actualidade em poesia. A actualidade em poesia compreende um tempo específico, que não só não é o tempo subordinado ao espaço no qual o poeta se move, como até entra em conflito com este.
Fazer poesia actual não é escrever versos destinados a terem êxito na actualidade representada pelo público e pela critica, porque esta é o atraso de um tempo de que o poeta é o avanço. Suspeito é o poeta sempre que agradavelmente afeiçoa os seus versos a uma comum sensibilidade literária. Não estou fazendo o elogio da poesia obscura ou ambiciosamente original. O gosto literário de uma época pode ser precisamente a obscuridade e a originalidade. É o que acontece com a nossa. E neste caso originalidade como recurso é poeticamente estéril, porque não fascina mas apenas satisfaz. Nada menos original do que a acomodatícia originalidade da poesia dos nossos dias e também nada menos actual por isso mesmo. Quer um exemplo? A última poesia feita com excrescências do Surrealismo execrado pelos seus parasitas. Nalguns casos é uma sufocada montagem de imagens achadas no cesto dos papéis do Surrealismo. Proclama-se uma renovação morfológica investindo de maior poder a palavra,
Sobre a Diferença dos Espíritos
Apesar de todas as qualidades do espírito se poderem encontrar num grande espírito, algumas há, no entanto, que lhe são próprias e específicas: as suas luzes não têm limites, actua sempre de igual modo e com a mesma actividade, distingue os objectos afastados como se estivessem presentes, compreende e imagina as coisas mais grandiosas, vê e conhece as mais pequenas; os seus pensamentos são elevados, extensos, justos e intelegíveis; nada escapa à sua perspicácia, que o leva sempre a descobrir a verdade, através das obscuridades que a escondem dos outros. Mas, todas estas grandes qualidades não impedem por vezes que o espírito pareça pequeno e fraco, quando o humor o domina.
Um belo espírito pensa sempre nobremente; produz com facilidade coisas claras, agradáveis e naturais; torna visíveis os seus aspectos mais favoráveis, e enfeita-os com os ornamentos que melhor lhes convêm; compreende o gosto dos outros e suprime dos seus pensamentos tudo o que é inútil ou lhe possa desagradar. Um espírito recto, fácil e insinuante sabe evitar e ultrapassar as dificuldades; adapta-se facilmente a tudo o que quer; sabe conhecer e acompanhar o espirito e o humor daqueles com quem priva e ao preocupar-se com os interesses dos amigos,
Conselhos a um Príncipe
Vais pela primeira vez ficar com uma responsabilidade. Lembra-te que este primeiro passo na tua vida política, pode decidir de todo o teu futuro. Ouve pois os conselhos de um pai e do teu melhor amigo. Continua o mesmo sistema que tenho sempre seguido, não alardear de querer fazer muito porque então nada se faz, e mesmo tu és apenas um delegado meu por oito a dez dias. Sê modesto sem pareceres ignorante é a primeira qualidade para um príncipe. Trata a todos bem, não dês confianças a ninguém senão aos teus mestres naturais, que deves consultar, porque ninguém nasce ensinado. Desconfia de elogios rasgados, poucas vezes são sinceros. Sê o Carlos meu filho, não queiras nunca parecer mais do que isso, e todos te hão-de estimar e respeitar, porque os desejos e as vontades dos pais são credos para os bons filhos. Não quero senão o teu bem. Ouve-me mais — sobretudo, sê grave, mais ainda que se estivéssemos junto de ti; porque os príncipes se devem distinguir entre todos. Pode-se ser rapaz, divertir-se mas sempre que nos revista um carácter de seriedade que nesta época moderna nos faça reconhecer mais príncipe pelas virtudes e porte do que pela nascença.
Da Conversa
Há quem, na conversa, prefira mostrar espírito brilhante, e ser capaz de sustentar todos os argumentos, a exercer o juízo no discernimento da verdade, como se houvesse maior mérito em saber o que pode ser dito, do que em conhecer o que deve ser pensado, alguns têm certos lugares comuns e certos temas em que se mostram bons conversadores, mas são falhos na variedade; esta espécie de indigência é quase sempre aborrecida, e de vez em quando ridícula; a parte mais honrosa do colóquio consiste em dar ocasião a novo tema, e também em moderar ou acelerar a transição para assunto diferente; é bom variar, mesclando o assunto de que se está a conversar com argumentos, narrativas com discussões, perguntas com respostas, jocosidades com seriedades; há, porém, assuntos que não permitem brincadeira, nomeadamente a religião, os negócios do Estado, as altas personalidades, todas as questões de importância para as pessoas presentes, enfim, todos os casos dignos de dó.
Aquele que muito interrogar muito aprenderá também, muito contentará também, especialmente se adaptar as suas perguntas aos conhecimentos daqueles que lhe podem responder, pois assim lhes dará ocasião de se comprazerem a falar, e ele próprio continuará a ganhar conhecimentos; se por vezes fingirdes ignorar o que consta que sabeis,
Só um Mundo de Amor pode Durar a Vida Inteira
Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
Ódios e Rancores
Recusa ser testemunha em processos: serias necessariamente alvo do rancor de uma das partes. Nunca forneças informações acerca de um homem que não seja bem nascido – e menos ainda se é de baixa extracção -, e faz como se tudo ignorasses a seu respeito. Se, em conversa, resolveres lançar uma ofensa contra alguém, sobretudo não tomes um ar pesado, mas continua a falar como se nada fosse. Em presença de terceiros, não manifestes a ninguém favores especiais, pois considerar-se-ia que desprezas os outros e serias votado a um ódio constante.
Evita avançar na carreira de modo demasiado rápido ou vistoso. É necessário que, perante uma luz que se torna cada vez mais brilhante, os olhos se habituem a pouco e pouco; caso contrário, desviam-se. Nunca vás contra o que agrada à gente do povo, quer se trate de simples tradições ou mesmo de hábitos que te repugnam.
Se és forçado a admitir que cometeste uma acção odiosa, não atices o ódio que desperta dando a impressão que não a lastimas ou, pior ainda, troçando das tuas vítimas, ou orgulhando-te do que fizeste: serias odiado duas vezes mais. O melhor é ausentares-te, deixares agir o tempo e não te manifestares.
Vaidade e Vanglória
Era uma linda invenção de Esopo a do moscardo que, sentado no eixo da roda, dizia: «Quanta poeira faço levantar!» Assim há muitas pessoas vãs que quando um negócio marcha por si ou vai sendo movido por agentes mais importantes, desde que estejam relacionados com ele por um só pormenor, imaginam que são eles quem conduz tudo: os que têm que ser facciosos, porque toda a vaidade assenta em comparações. Têm de ser necessariamente violentos, para fazerem valer as suas jactâncias. Não podem guardar segredo, e por isso não são úteis para ninguém, mas confirmam o provérbio francês: Beaucoup de bruit, peu de fruit.
Este defeito não é, porém, sem utilidade para os negócios políticos: onde houver uma opinião ou uma fama a propagar, seja de virtude seja de grandeza, esses homens são óptimos trombeteiros.
(…) A vaidade ajuda a perpetuar a memória dos homens, e a virtude nunca foi considerada pela natureza humana como digna de receber mais do que um prémio de segunda mão. A glõria de Cícero, de Séneca, de Plínio o Moço, não teria durado tanto tempo se eles não fossem de algum modo vaidosos; a vaidade é como o verniz, que não só faz brilhar,