O ExercĂcio de Viver
Se o exercĂcio de viver consiste maioritariamente em se ir atraiçoando um por um os sonhos que animaram os nossos anos de infância e juventude, entĂŁo cada pessoa Ă© o resultado exato de um bom punhado de traições. Ă€s vezes centenas. Traem-se os sonhos mais puros e traem-se tambĂ©m os pesadelos. Por erro humano, fugimos de tempestades sem nos apercebermos de que eram tĂŁo nossas e estavam tĂŁo mergulhadas na nossa prĂłpria medula que sem elas nĂŁo poderĂamos existir. Dizemos, salva-me; dizemos, a ti já nĂŁo quererei cravar facas nas pernas, nĂŁo te farei mal, nĂŁo desejarei ver a tua expressĂŁo de dor em nenhum espelho, amar-te-ei de outro modo, adorar-te-ei a partir de um ser que nĂŁo existe, chamarei suplĂcio ao meu passado, chamar-lhe-ei calvário atĂ© chegar a ti. Dir-te-ei que Ă©s suave como sonho o cĂ©u e que nĂŁo me importo de fechar os olhos a tudo para sempre se souber que depois irás beijar-me as pálpebras. NĂŁo serei eu. Lançarei pazadas e mais pazadas de terra sobre o monstro. Aproximar-me-ei o mais possĂvel do nada, de um caixĂŁo sem morto, de uma catedral vazia. Comprar-te-ei flores.
NĂŁo pode ser muito difĂcil porque nada Ă© o que somos em definitivo,
Textos sobre Erros de Carlos Castán
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