A Esperança da Humanidade
A vida polĂtica, porĂ©m, veio como um trovĂŁo desviar-me dos meus trabalhos. Regressei uma vez mais Ă multidĂŁo.
A multidĂŁo humana foi a maior lição da minha vida. Posso chegar a ela com a inerente timidez do poeta, com o receio do tĂmido; mas, uma vez no seu seio, sinto-me transfigurado. Sou parte da essencial maioria, sou mais uma folha da grande árvore humana.SolidĂŁo e multidĂŁo continuarĂŁo a ser deveres elementares do poeta do nosso tempo. Na solidĂŁo, a minha vida enriqueceu-se com a batalha da ondulação no litoral chileno. Intrigaram-me e apaixonaram-me as águas combatentes e os penhascos combatidos, a multiplicação da vida oceânica, a impecável formação dos «pássaros errantes», o esplendor da espuma marĂtima.
Mas aprendi muito mais com a grande marĂ© das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo. Pode esta mensagem nĂŁo ser possĂvel a todos os poetas, mas quem a tenha sentido guardá-la-á no coração, desenvolvendo-a na sua obra.
É memorável e desvanecedor para o poeta ter encarnado para muitos homens, durante um minuto, a esperança.
Textos sobre Esperança de Pablo Neruda
2 resultadosLuto pela Bondade
Quero viver num mundo sem excomungados. NĂŁo excomungarei ninguĂ©m. NĂŁo diria, amanhĂŁ, a esse sacerdote: «VocĂŞ nĂŁo pode baptizar ninguĂ©m porque Ă© anticomunista.» NĂŁo diria ao outro: «NĂŁo publicarei o seu poema, o seu trabalho, porque vocĂŞ Ă© anticomunista.» Quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais tĂtulos alĂ©m desse, sem trazerem na cabeça uma regra-, uma palavra rĂgida, um rĂłtulo. Quero que se possa entrar em todas as igrejas, em todas as tipografias. Quero que nĂŁo esperem ninguĂ©m, nunca mais, Ă porta do municĂpio para o deter e expulsar. Quero que todos entrem e saiam sorridentes da Câmara Municipal. NĂŁo quero que ninguĂ©m fuja em gĂ´ndola, que ninguĂ©m seja perseguido de motocicleta. Quero que a grande maioria, a Ăşnica maioria, todos, possam falar, ler, ouvir, florescer. Nunca compreendi a luta senĂŁo como um meio de acabar com ela. Nunca aceitei o rigor senĂŁo como meio para deixar de existir o rigor. Tomei um caminho porque creio que esse caminho nos leva, a todos, a essa amabilidade duradoura. Luto pela bondade ubĂqua, extensa, inexaurĂvel. De tantos encontros entre a minha poesia e a polĂcia, de todos esses episĂłdios e de outros que nĂŁo contarei porque repetidos,