O Triunfo dos Imbecis
NĂŁo nos deve surpreender que, a maior parte das vezes, os imbecis triunfem mais no mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes tĂŞm por vezes de lutar contra si prĂłprios e, como se isso nĂŁo bastasse, contra todos os medĂocres que detestam toda e qualquer forma de superioridade, o imbecil, onde quer que vá, encontra-se entre os seus pares, entre companheiros e irmĂŁos e Ă©, por espĂrito de corpo instintivo, ajudado e protegido. O estĂşpido sĂł profere pensamentos vulgares de forma comum, pelo que Ă© imediatamente entendido e aprovado por todos, ao passo que o gĂ©nio tem o vĂcio terĂvel de se contrapor Ă s opiniões dominantes e querer subverter, juntamente com o pensamento, a vida da maioria dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas pelos imbecis sĂŁo tĂŁo abundante e solicitamente louvadas – os juĂzes sĂŁo, quase na totalidade, do mesmo nĂvel e dos mesmos gostos, pelo que aprovam com entusiasmo as ideias e paixões medĂocres, expressas por alguĂ©m um pouco menos medĂocre do que eles.
Este favor quase universal que acolhe os frutos da imbecilidade instruĂda e temerária aumenta a sua já copiosa felicidade. A obra do grande, ao invĂ©s, sĂł pode ser entendida e admirada pelos seus pares,
Textos sobre EstĂşpidos de Giovanni Papini
2 resultadosHábito e Inércia
Ao princĂpio, somos carne animada pela alma; a meio caminho, meias máquinas; perto do fim, autĂłmatos rĂgidos e gelados como cadáveres. Quando a morte chega, encontramo-nos em tudo semelhantes aos mortos. Esta petrificação progressiva Ă© obra do hábito.
O hábito torna-nos cegos Ă s maravilhas do mundo – indiferentes e inconscientes perante os milagres quotidianos -, embota a força dos sentidos e dos sentimentos – torna-nos escravos dos costumes, mesmo tristes e culpados: suprime a vista, espanto, fogo e liberdade. Escravos, frĂgidos, insensatos, cegos: tudo propriedade dos cadáveres. A subjugação aos hábitos Ă© uma subjugação da morte; um suicĂdio gradual do espĂrito.
O hábito suprime as cores, incrusta, esconde: partes da nossa vida afundam-se gradualmente na inconsciĂŞncia e deixam de ser vida para se tornarem peças de um mecanismo imprevisto. O cĂrculo do espontâneo reduz-se; a liberdade e novidade decaem na monotonia do vulgar.
É como se o sangue se tornasse, a pouco e pouco, sĂłlido como os ossos e a alma um sistema de correias e rodas. A matĂ©ria nĂŁo passa de espĂrito petrificado pelos hábitos. Nasce-se espĂrito e matĂ©ria e termina-se apenas como matĂ©ria. A casca converteu em madeira a prĂłpria linfa.
A casca é necessária para proteger o albume,