Em Louvor das Crianças
Se hĂĄ na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino Ă© o da infĂąncia. A esse paĂs inocente, donde se Ă© expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados â a tais regressos se chama, Ă s vezes, poesia. Essa espĂ©cie de terra mĂtica Ă© habitada por seres de uma tĂŁo grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi Ă s crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o ParaĂso.
A sedução das crianças provĂ©m, antes de mais, da sua proximidade com os animais â a sua relação com o mundo nĂŁo Ă© a da utilidade, mas a do prazer. Elas nĂŁo conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que sĂŁo, como disse Saint-ExupĂ©ry, o dinheiro e a vaidade. Estas frĂĄgeis criaturas, as Ășnicas desde a origem destinadas Ă imortalidade, sĂŁo tambĂ©m as mais vulnerĂĄveis â elas tĂȘm o peito aberto Ă s maravilhas do mundo, mas estĂŁo sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, nĂŁo diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que,
Textos sobre Evangelho
3 resultadosFoste Tu que me Desvendaste o Amor
Querida: estamos sozinhos Ă mesa nesta noite infinita em que a chuva cai lĂĄ fora com um ruido monĂłtono de chĂŽro. Estamos sĂłs nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. Rodeiam-nos, chegam-se para mim e sentam-se ao nosso lume. SĂŁo legiĂŁo… Mais perto, que eu faço uma labareda que nos aqueça a todos. A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo, mas hoje estĂŁo aqui sentadas todas as figuras que conheço desde que me conheço… Tu, toda branca, e que mesmo atravĂ©s do tĂșmulo me transmites sonho; tu, mais longe, mais apagada e sumida; e tu, que vens de volta, e encostas os teus cabelos brancos aos meus cabelos brancos, para me dizeres baixinho: â Menino!âPois ainda me chamas menino?! â Outro acolĂĄ sorri e outro tenta falar… Dois vivos e tantos mortos sentados Ă roda desta mesa que veio de meu pai, foi de meu avĂŽ e pertenceu jĂĄ a outras geraçÔes desconhecidas, mas que estĂŁo aqui tambĂ©m comigo, escutando e sorrindo, enquanto as pinhas se transformam em flores maravilhosas e as vides que plantei se reduzem a cinza!… Nunca estive tĂŁo acompanhado como hoje nesta ceia religiosa de fantasmas,
A Maldade como Poderoso Elemento do Progresso Humano
Os sentimentos fixos e de forma constante qualificados de paixĂ”es constituem, tambĂ©m, possantes factores de opiniĂ”es, de crenças e, por conseguinte, de conduta. Certas paixĂ”es contagiosas tornam-se, por esse motivo, facilmente colectivas. A sua acção Ă©, entĂŁo, irresistĂvel. Elas precipitaram muitos povos uns contra os outros nas diversas fases da histĂłria. As paixĂ”es podem excitar a nossa actividade, porĂ©m, alteram, as mais das vezes, a justeza das opiniĂ”es, impedindo de ver as coisas como realmente sĂŁo e de compreender a sua gĂ©nese. Se nos livros de histĂłria sĂŁo abundantes os erros, Ă© porque, na maior parte dos casos, as paixĂ”es ditam a sua narrativa. NĂŁo se citaria, penso eu, um historiador que haja relatado imparcialmente a Revolução.
O papel das paixĂ”es Ă©, como vemos, muito considerĂĄvel nas nossas opiniĂ”es e, por conseguinte, na gĂ©nese dos acontecimentos. NĂŁo sĂŁo, infelizmente, as mais recomendĂĄveis que tĂȘm exercido maior acção. Kant reconheceu a grande força social das piores paixĂ”es. A maldade Ă©, no seu juĂzo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho âAmai-vos uns aos outrosâ, ao invĂ©s de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruĂrem mutuamente,