O Homem-Massa
Numa boa ordenação das coisas pĂșblicas, a massa Ă© o que nĂŁo actua por si mesma. Tal Ă© a sua missĂŁo. Veio ao mundo para ser dirigida, influĂda, representada, organizada â atĂ© para deixar de ser massa, ou, pelo menos, aspirar a isso. Mas nĂŁo veio ao mundo para fazer tudo isso por si. Necessita referir a sua vida Ă instĂąncia superior, constituĂda pelas minorias excelentes. Discuta-se quanto se queira quem sĂŁo os homens excelentes; mas que sem eles â sejam uns ou outros â a humanidade nĂŁo existiria no que tem de mais essencial, Ă© coisa sobre a qual convĂ©m que nĂŁo haja dĂșvida alguma, embora leve a Europa todo um sĂ©culo a meter a cabeça debaixo da asa, ao modo dos estrĂșcios para ver se consegue nĂŁo ver tĂŁo radiante evidĂȘncia. Porque nĂŁo se trata de uma opiniĂŁo fundada em factos mais ou menos frequentes e provĂĄveis, mas numa lei da «fĂsica» social, muito mais incomovĂvel que as leis da fĂsica de Newton. No dia em que volte a imperar na Europa uma autĂȘntica filosofia â Ășnica coisa que pode salvĂĄ-la â, compreender-se-ĂĄ que o homem Ă©, tenha ou nĂŁo vontade disso, um ser constitutivamente forçado a procurar uma instĂąncia superior.
Textos sobre EvidĂȘncia de JosĂ© Ortega y Gasset
2 resultadosO Destino de Cada Homem Ă© o Seu Maior Prazer
No ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do prĂłprio ser e nĂŁo lhe advĂ©m de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade Ă© a cara, a facies da felicidade. E todo o ser Ă© feliz quando satisfaz o seu destino, isto Ă©, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando estĂĄ a ser o que Ă© na verdade. Por esta razĂŁo Schlegel dizia, invertendo a relação entre voluptuosidade e destino: «Para o que nos agrada temos gĂ©nio». O gĂ©nio, isto Ă©, o dom superlativo de um ser para fazer alguma coisa tem sempre simultaneamente uma fisionomia de supremo prazer. Num dia que estĂĄ prĂłximo e graças a uma transbordante evidĂȘncia vamo-nos ver surpreendidos e obrigados a descobrir o que agora somente parecerĂĄ uma frase: que o destino de cada homem Ă©, ao mesmo tempo, o seu maior prazer.