Moralidade e Êxito
Não são só os espectadores de um acto que, amiúde, medem o que é moral ou imoral no mesmo, consoante o êxito: não, o próprio autor também o faz. Pois os motivos e as intenções raramente são suficientemente claros e simples, e, às vezes, a própria memória parece perturbada pelo efeito do acto, de modo que a pessoa atribui ao seu próprio acto motivos falsos ou trata como essenciais os motivos secundários. O êxito dá, muitas vezes, a um acto todo o honesto brilho da boa consciência, um malogro coloca a sombra do remorso sobre a acção mais respeitável. Daí resulta a conhecida prática do político, que pensa: «Dai-me simplesmente o êxito! Com ele, também terei posto do meu lado todas as almas honestas… e ter-me-ei tornado honesto, perante mim próprio». De maneira análoga, o êxito é suposto substituir a melhor fundamentação.
Textos sobre Êxito de Friedrich Nietzsche
2 resultadosA Felicidade e a Virtude Não São Argumentos
Ninguém tomará facilmente por verdadeira uma doutrina somente porque ela torna felizes ou virtuosos os homens: exceptuando, talvez, os amáveis «idealistas» que se entusiasmam pelo Bom, o Verdadeiro, o Belo e fazem nadar, no seu charco, toda a espécie de variegadas, pesadonas e bonacheironas idealidades. A felicidade e a virtude não são argumentos. Mas de bom grado se esquece, mesmo os espíritos ponderados, que tornar infeliz e tornar mau não são tão-pouco contra-argumentos. Uma coisa deveria ser certa, embora fosse muitíssimo prejudicial e perigosa; seria até possível fazer parte da estrutura básica da existência o perecermos por causa do nosso conhecimento total, – de forma que a força de um espírito se mediria justamente pela quantidade de «verdade» que era capaz de suportar ou, mais claramente, pelo grau em que necessitasse de a diluir, velar, adocicar, embotar, falsificar. Mas está fora de dúvida o facto de os maus e infelizes serem mais favorecidos e terem maior possibilidade de êxito na descoberta certas partes da verdade; para não falar dos maus que são felizes, – espécie que os moralistas passam em silêncio.
É possível que a dureza e a astúcia forneçam, para o desenvolvimento do espírito e do filósofo firmes e independentes,