Não há Liberdade sem Direcção
É fácil estabelecer a ordem de uma sociedade na submissão de cada um dos seus componentes a regras fixas. É fácil moldar um homem cego que tolere, sem protestar, um mestre ou um Corão. Mas é muito diferente, para libertar o homem, fazê-lo reinar sobre si próprio.
Mas o que Ă© libertar? Se eu libertar, no deserto, um homem que nĂŁo sente nada, que significa a sua liberdade? NĂŁo há liberdade a nĂŁo ser a de «alguĂ©m» que vai para algum sĂtio. Libertar este homem seria mostrar-lhe que tem sede e traçar o caminho para um poço. SĂł entĂŁo se lhe ofereceriam possibilidades que teriam significado. Libertar uma pedra nada significa se nĂŁo existir gravidade. Porque a pedra, depois de liberta, nĂŁo iria a parte nenhuma.
Textos sobre Fácil de Antoine de Saint-Exupéry
2 resultadosFelicidade com Poucos Bens
Embora a experiĂŞncia me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifĂcio do que entre os sedentários dos oásis fĂ©rteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse Ă natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens sĂŁo em maior nĂşmero, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se enganarem quanto Ă natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal impĂ©rio ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vĂŁs. Como os homens do deserto ou do mosteiro nĂŁo possuem nada, sabem muito bem donde lhes vĂŞm as alegrias e Ă©-lhes assim mais fácil salvarem a prĂłpria fonte do seu fervor.