Perguntas e Respostas
— Qual é a coisa mais antiga do mundo?
— Poderia dizer que é Deus que sempre existiu.
— Qual é a coisa mais bela?
— O instante de inspiração.
— E Deus quando criou o Universo não o fez no momento de Sua maior inspiração?
— O Universo sempre existiu. O cosmos é Deus.
— Qual das coisas é a maior?
— O amor, que é o maior dos mistérios.
— Das coisas qual é a mais constante?
— O medo. Que pena que eu não possa responder: é a esperança.
— Qual o melhor dos sentimentos?
— O de amar e ao mesmo tempo ser amada, o que parece apenas um lugar-comum mas é uma de minhas verdades.
— Qual é o sentimento mais rápido?
— O sentimento mais rápido, que chega a ser apenas um fulgor, é o instante em que um homem e uma mulher sentem um no outro a promessa de um grande amor.
— Qual é a mais forte das coisas?
— O instinto de ser.
— O que é mais fácil de se fazer?
— Existir,
Textos sobre Fácil de Clarice Lispector
4 resultadosLiberdade Ă© Pouco
Liberdade Ă© pouco. O que desejo ainda nĂŁo tem nome. — Sou pois um brinquedo a quem dĂŁo corda e que terminada esta nĂŁo encontrará vida prĂłpria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez sĂł a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senĂŁo morrerei de sede. Talvez nĂŁo tenha sido feita para as águas puras e largas, mas para as pequenas e de fácil acesso. E talvez meu desejo de outra fonte, essa ânsia que me dá ao rosto um ar de quem caça para se alimentar, talvez essa ânsia seja uma ideia – e nada mais. PorĂ©m – os raros instantes que Ă s vezes consigo de suficiĂŞncia, de vida cega, de alegria tĂŁo intensa e tĂŁo serena como o canto de um ĂłrgĂŁo – esses instantes nĂŁo provam que sou capaz de satisfazer minha busca e que esta Ă© sede de todo o meu ser e nĂŁo apenas uma ideia? AlĂ©m do mais, a ideia Ă© a verdade! grito-me. SĂŁo raros os instantes.
Mais do que Amor
O amor veio afirmar todas as coisas velhas de cuja existĂŞncia apenas sabia sem nunca ter aceito e sentido. O mundo rodava sob seus pĂ©s, havia dois sexos entre os humanos, um traço ligava a fome Ă saciedade, o amor dos animais, as águas das chuvas encaminhavam-se para o mar, crianças eram seres a crescer, na terra o broto se tornaria planta. NĂŁo poderia mais negar… o quĂŞ? — perguntava-se suspensa. O centro luminoso das coisas, a afirmação dormindo em baixo de tudo, a harmonia existente sob o que nĂŁo entendia.
Erguia-se para uma nova manhĂŁ, docemente viva. E sua felicidade era pura como o reflexo do sol na água. Cada acontecimento vibrava em seu corpo como pequenas agulhas de cristal que se espedaçassem. Depois dos momentos curtos e profundos vivia com serenidade durante largo tempo, compreendendo, recebendo, resignando-se a tudo. Parecia-lhe fazer parte do verdadeiro mundo e estranhamente ter-se distanciado dos homens. Apesar de que nesse perĂodo conseguia estender-lhes a mĂŁo com uma fraternidade de que eles sentiam a fonte viva. Falavam-lhe das prĂłprias dores e ela, embora nĂŁo ouvisse, nĂŁo pensasse, nĂŁo falasse, tinha um olhar bom — brilhante e misterioso como o de uma mulher grávida.
Amor com IncompreensĂŁo
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.