Concebemos apenas Átomos em Comparação com a Realidade das Coisas
A primeira coisa que se oferece ao homem ao contemplar-se a si próprio, é o seu corpo, isto é, certa parcela de matéria que lhe é peculiar. Mas, para compreender o que ela representa e a fixá-la dentro dos seus justos limites, precisa de a comparar a tudo o que se encontra acima ou abaixo dela. Que não se atenha, pois, a olhar para os objetos que o cercam, simplesmente, mas a contemplar a natureza inteira na sua alta e plena majestosidade. Considere esta brilhante luz colocada acima dele como uma lâmpada eterna para iluminar o universo, e que a Terra lhe apareça como um ponto na órbita ampla deste astro e maravilhe-se de ver que essa amplitude não passa de um ponto insignificante na rota dos outros astros que se espalham pelo firmamento. E se nossa vista aí se detém, que a nossa imaginação não pare; mais rapidamente se cansará ela de conceber, que a natureza de revelar . Todo esse mundo visível é apenas um traço perceptível na amplidão da natureza, que nem sequer nos é dado a conhecer de um modo vago. Por mais que ampliemos as nossas concepções e as projectemos além de espaços imagináveis, concebemos tão somente átomos em comparação com a realidade das coisas.
Textos sobre Fatos de Blaise Pascal
2 resultadosNinguém se Admira com a sua Fraqueza
O que mais me admira ver é como ninguém se admira com a sua fraqueza. Age-se de maneira séria e cada um segue a sua condição, não porque é bom segui-la, mas porque é moda; mas como se cada um soubesse de maneira certa onde é que está a razão e a justiça. Encontramo-nos enganados constantemente; e, por uma humildade divertida, julgamos que é por nossa culpa e não da arte que nos gabamos sempre de ter. Mas é bom que haja tantas pessoas assim no Mundo, que não sejam pirrónicas, para glória do pirronismo, para mostrar que o homem é bem capaz das mais extravagantes opiniões, visto que é capaz de crer que não está nesta fraqueza natural e inevitável, e crer que está, pelo contrário, na sabedoria natural.
Nada fortifica mais o pirronismo do que o facto de haver quem não seja nada pirrónico: se todos o fossem, eles não teriam razão.