A Inutilidade do Viajar
Que utilidade pode ter, para quem quer que seja, o simples facto de viajar? NĂŁo Ă© isso que modera os prazeres, que refreia os desejos, que reprime a ira, que quebra os excessos das paixões erĂłticas, que, em suma, arranca os males que povoam a alma. NĂŁo faculta o discernimento nem dissipa o erro, apenas detĂ©m a atenção momentaneamente pelo atractivo da novidade, como a uma criança que pasma perante algo que nunca viu! AlĂ©m disso, o contĂnuo movimento de um lado para o outro acentua a instabilidade (já de si considerável!) do espĂrito, tornando-o ainda mais inconstante e incapaz de se fixar. Os viajantes abandonam ainda com mais vontade os lugares que tanto desejavam visitar; atravessam-nos voando como aves, vĂŁo-se ainda mais depressa do que vieram. Viajar dá-nos a conhecer novas gentes, mostra-nos formações montanhosas desconhecidas, planĂcies habitualmente nĂŁo visitadas, ou vales irrigados por nascentes inesgotáveis; proporciona-nos a observação de algum rio de caracterĂsticas invulgares, como o Nilo extravasando com as cheias de VerĂŁo, o Tigre, que desaparece Ă nossa vista e faz debaixo de terra parte do seu curso, retomando mais longe o seu abundante caudal, ou ainda o Meandro, tema favorito das lucubrações dos poetas, contorcendo-se em incontáveis sinuosidades,
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