Sobre o Falso
Somos falsos de maneiras diferentes. HĂĄ homens falsos que querem parecer sempre o que nĂŁo sĂŁo. Outros hĂĄ de melhor fĂ©, que nasceram falsos, se enganam a si prĂłprios o nunca vĂȘem as coisas tal como sĂŁo. HĂĄ alguns cujo espĂrito Ă© estreito e o gosto falso. Outros tĂȘm o espĂrito falso, mas alguma correcção no gosto. E ainda hĂĄ outros que nĂŁo tĂȘm nada de falso, nem no gosto nem no espĂrito. Estes sĂŁo muito raros, jĂĄ que, em geral, nĂŁo hĂĄ quase ninguĂ©m que nĂŁo tenha alguma falsidade algures, no espĂrito ou no gosto.
O que torna essa falsidade tĂŁo universal, Ă© que as nossas qualidades sĂŁo incertas e confusas e a nossa visĂŁo tambĂ©m: nĂŁo vemos as coisas tal como sĂŁo, avaliamo-las aquĂ©m ou alĂ©m do que elas valem e nĂŁo as relacionamos connosco da forma que lhes convĂ©m e que convĂ©m ao nosso estado e Ă s nossas qualidades. Esse erro de cĂĄlculo traz consigo um nĂșmero infinito de falsidades no gosto e no espĂrito: o nosso amor-prĂłprio lisonjeia-se como tudo que se nos apresenta sob a aparĂȘncia de bem; mas como hĂĄ vĂĄrias formas de bem que sensibilizam a nossa vaidade ou o nosso temperamento,
Textos sobre Fé de François de La Rochefoucauld
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