A Cultura Portuguesa e o Provincianismo
A cultura portuguesa tem um amor fatal pelo provincianismo. O provincianismo Ă© a forma mais «engagĂ©e» de existir socialmente e literariamente. DaĂ a impossibilidade, ou melhor, o medo de se realizar sequer um realismo a sĂ©rio, porquanto este exige uma descida ao inferno e nĂŁo vejo por aĂ quem se atreva alĂ©m do purgatĂłrio. Fica-se assim na meia tinta do naturalismo, retratando quadros convencionais de uma sociedade provinciana onde, alĂ©m da já muito conhecida injustiça social (reparável pela economia e nĂŁo pela literatura), nada se capta que possa sugerir a simples violĂŞncia de se estar no mundo. Provincianismo chama-se ainda Ă quela nossa atitude que toma muito a sĂ©rio ou, ainda, solenemente, tudo o que faz, tornando inviável uma literatura que desmonte eficazmente a engrenagem humana e social pela incomplacente investida de um humor cruel. Houve recentes tentativas queirozianas para denunciar as fraquezas do meio. Conseguiu-se fazer realismo desta vez? TambĂ©m nĂŁo, porque se fez realismo de emprĂ©stimo, de segunda mĂŁo, colhido no «diz-se diz-se» das esquinas. Escreveu-se razoavelmente má-lĂngua, mas nĂŁo se agitaram as pessoas e as instituições de forma a tornar visĂvel o lodo depositado no fundo. Isto quanto aos que fazem profissĂŁo de fĂ© de realismo social ou burguĂŞs.
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