Viver no Escuro ou na Sombra
O objecto que amamos parece-nos mais belo do que Ă©, por isso vemos com frequĂŞncia mulheres feias e mal-feitas serem adoradas e desfrutarem de grandes honras (LucrĂ©cio), e mais feio aquele pelo qual temos aversĂŁo. Para um homem contrariado e aflito a claridade do dia parece escurecida e tenebrosa. Os nossos sentidos sĂŁo nĂŁo apenas alterados mas amiĂşde totalmente embrutecidos pelas paixões da alma. Quantas coisas vemos, que nĂŁo perceberemos se tivermos o nosso espĂrito ocupado alhures? Mesmo com coisas bem visĂveis, reconhecerás que, se nĂŁo lhes aplicares o espĂrito, Ă© como se desde sempre elas estivessem ausentes ou muito distantes (LucrĂ©cio). Parece que a alma traz para o interior e transvia os poderes dos sentidos. Dessa maneira, tanto o interior como o exterior do homem sĂŁo cheios de fraqueza e de mentira.
Os que compararam a nossa vida com um sonho tiveram razĂŁo, talvez, mais do que pensavam. Quando sonhamos, a nossa alma vive, age, exerce todas as suas faculdades, nem mais nem menos do que quando está em vigĂlia; porĂ©m de modo mais frouxo e obscuro, decerto nĂŁo tanto que a diferença seja como da noite para uma viva claridade, mas sim como da noite para a sombra: lá ela dorme,
Textos sobre Feios de Michel de Montaigne
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