Penso, logo Existo
De há muito tinha notado que, pelo que respeita Ă conduta, Ă© necessário algumas vezes seguir como indubitáveis opiniões que sabemos serem muito incertas, (…). Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas Ă descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dĂşvida, a fim de ver se, apĂłs isso, nĂŁo ficaria qualquer coisa nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável.
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, atĂ© nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que atĂ© entĂŁo me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer tambĂ©m quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que atĂ© entĂŁo encontrara acolhimento no meu espĂrito nĂŁo era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso,
Textos sobre Filosofia de René Descartes
2 resultadosViver de Olhos Fechados
É propriamente ter os olhos fechados, sem jamais tentar abri-los, viver sem filosofar; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa visão descobre não é comparável à satisfação proporcionada pelo conhecimento daquelas que encontramos por meio da filosofia; e, finalmente, esse estudo é mais necessário para regrar os nossos costumes e conduzir-nos por essa vida do que o uso dos nossos olhos para orientar os nossos passos.
(…) Se desejamos seriamente ocupar-nos com o estudo da filosofia e com a busca de todas as verdades que somos capazes de conhecer, tratemos, em primeiro lugar, de nos libertar dos nossos preconceitos, e estaremos em condições de rejeitar todas as opiniões que outrora recebemos atravĂ©s da nossa crença atĂ© que as tenhamos examinado novamente; em seguida, passaremos em revista as noções que estĂŁo em nĂłs, e sĂł aceitaremos como verdadeiras as que se apresentarem clara e distintamente ao nosso entendimento.