O Amor e a Vida
O amor Ă© uma imagem da nossa vida. Tanto o primeiro como a segunda estĂŁo sujeitos Ă s mesmas revoluções e mudanças. A sua juventude Ă© resplandecente, alegre e cheia de esperanças porque somos felizes por ser jovens tal como somos felizes por amar. Este agradabilĂssimo estado leva-nos a procurar outros bens muito sĂłlidos. NĂŁo nos contentamos nessa fase da vida com o facto de susbsistirmos, queremos progredir, ocupamo-nos com os meios para nos aperfeiçoarmos e para assegurar a nossa boa sorte. Procuramos a protecção dos ministros, mostrando-nos solĂcitos e nĂŁo aguentamos que outrem queira o mesmo que temos em vista. Este estĂmulo cumula-nos de mil trabalhos e esforços que logo se apagam quando alcançamos o desejado. Todas as nossas paixões ficam entĂŁo satisfeitas e nem por sombras podemos imaginar que a nossa felicidade tenha fim.
No entanto, esta felicidade raramente dura muito e fatiga-se da graça da novidade. Para possuirmos o que desejámos nĂŁo paramos de desejar mais e mais. Habituamo-nos ao que temos, mas os mesmos haveres nĂŁo conservam o seu preço, como nem sempre nos tocam do mesmo modo. Mudamos imperceptivelmente sem disso nos apercebermos. O que já adquirimos torna-se parte de nĂłs mesmos e sofrerĂamos muito com a sua perda,
Textos sobre Fim de François de La Rochefoucauld
2 resultadosO Homem Congrega Todas as Espécies de Animais
Há tĂŁo diversas espĂ©cies de homens como há diversas espĂ©cies de animais, e os homens sĂŁo, em relação aos outros homens, o que as diferentes espĂ©cies de animais sĂŁo entre si e em relação umas Ă s outras. Quantos homens nĂŁo vivem do sangue e da vida dos inocentes, uns como tigres, sempre ferozes e sempre cruĂ©is, outros como leões, mantendo alguma aparĂŞncia de generosidade, outros como ursos grosseiros e ávidos, outros como lobos arrebatadores e impiedosos, outros ainda como raposas, que vivem de habilidades e cujo ofĂcio Ă© enganar!
Quantos homens nĂŁo se parecem com os cĂŁes! Destroem a sua espĂ©cie; caçam para o prazer de quem os alimenta; uns andam sempre atrás do dono; outros guardam-lhes a casa. Há lebrĂ©us de trela que vivem do seu mĂ©rito, que se destinam Ă guerra e possuem uma coragem cheia de nobreza, mas há tambĂ©m dogues irascĂveis, cuja Ăşnica qualidade Ă© a fĂşria; há cĂŁes mais ou menos inĂşteis, que ladram frequentemente e por vezes mordem, e há atĂ© cĂŁes de jardineiro. Há macacos e macacas que agradam pelas suas maneiras, que tĂŞm espĂrito e que fazem sempre mal. Há pavões que sĂł tĂŞm beleza, que desagradam pelo seu canto e que destroem os lugares que habitam.