O Verdadeiro Emprego da Nossa RazĂŁo
De resto, o verdadeiro emprego da nossa razĂŁo para a conduta da vida nĂŁo consiste senĂŁo em examinar e considerar sem paixĂŁo o valor de todas as perfeições, tanto do corpo quanto do espĂrito, que podem ser adquiridas atravĂ©s da nossa conduta, a fim de que, sendo normalmente obrigados a privar-nos de algumas para ter as outras, sempre escolhamos as melhores.
Textos sobre Fim de René Descartes
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De há muito tinha notado que, pelo que respeita Ă conduta, Ă© necessário algumas vezes seguir como indubitáveis opiniões que sabemos serem muito incertas, (…). Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas Ă descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dĂşvida, a fim de ver se, apĂłs isso, nĂŁo ficaria qualquer coisa nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável.
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, atĂ© nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que atĂ© entĂŁo me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer tambĂ©m quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que atĂ© entĂŁo encontrara acolhimento no meu espĂrito nĂŁo era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso,