Os Portugueses SĂŁo Profundamente Vaidosos
Os Portugueses sĂŁo profundamente vaidosos. Quando me dizem que eu sou muito vaidosa, eu, nisso, sinto-me muito portuguesa. Quando, por exemplo, os Franceses me dizem, com uma linguagem muito catedrática, «eu conheço muito bem os Portugueses atravĂ©s de toda essa onda de emigração, eles sĂŁo muito humildes e dizem que o lugar onde gostariam de morrer seria em França», eu digo «tenha cuidado, o portuguĂŞs mente sempre. É como o japonĂŞs, mente sempre.» Porque tem receio de mostrar o seu complexo de superioridade. Ele acha que Ă© imprudente e que Ă© atĂ© disparatado, mas que faz parte da sua natureza. Portanto, apresenta uma espĂ©cie de capa e de fisionomia de humildade, modĂ©stia, submissĂŁo. Mas nĂŁo Ă© nada disso, Ă© justamente o contrário. Houve Ă©pocas da nossa HistĂłria em que a sua verdadeira natureza pĂ´de expandir-se sem cair no ridĂculo, mas há outras em que nĂŁo. E entĂŁo, para se defender desse ridĂculo, o portuguĂŞs parece essa pessoa modesta, cordata, que nĂŁo levanta demasiados problemas, seja aos regimes seja na sua vida particular.
Textos sobre Franceses de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosCrĂłnica de Natal
Todos os anos, por esta altura, quando me pedem que escreva alguma coisa sobre o Natal, reajo de mau modo. «Outra vez, uma histĂłria de Natal! Que chatice!» — digo. As pessoas ficam muito chocadas quando eu falo assim. Acham que abuso dos direitos que me sĂŁo conferidos. Os meus direitos sĂŁo falar bem, assim como para outros nĂŁo falar mal. Uma vez, em Paris, um chauffeur de táxi, desses que se fazem castiços e dizem palavrões para corresponder Ă fama que tĂŞm, aborreceu-me tanto que lhe respondi com palavrões. Ditos em francĂŞs, a mim nĂŁo me impressionavam, mas ele levou muito a mal e ficou amuado. Como se eu pisasse um terreno que nĂŁo era o meu e cometesse um abuso. Ele era malcriado mas eu – eu era injusta. Cada situação tem a sua justiça prĂłpria, Ă© isto Ă© duma complexidade que o cĂłdigo civil nĂŁo alcança.
Mas dizia eu: «Outra vez o Natal, e toda essa boa vontade de encomenda!» Ponho-me a percorrer as imagens que sĂŁo de praxe, anjos trombeteiros, pastores com capotes de burel e meninos pobres do tempo da Revolução Industrial inglesa. Pobres e explorados, mas, entretanto, nĂŁo excluĂdos do trato social atravĂ©s dos seus conflitos prĂłprios,