O Vazio da Pressa e do Dinamismo
A pressa, o nervosismo, a instabilidade, observados desde o surgimento das grandes cidades, alastram-se nos dias de hoje de uma forma tĂŁo epidĂ©mica quanto outrora a peste e a cĂłlera. Nesse processo manifestam-se forças das quais os passantes apressados do sĂ©culo XIX nĂŁo eram capazes de fazer a menor ideia. Todas as pessoas tĂȘm necessariamente algum projecto. O tempo de lazer exige que se o esgote. Ele Ă© planeado, utilizado para que se empreenda alguma coisa, preenchido com vistas a toda espĂ©cie de espectĂĄculo, ou ainda apenas com locomoçÔes tĂŁo rĂĄpidas quanto possĂvel. A sombra de tudo isso cai sobre o trabalho intelectual. Este Ă© realizado com mĂĄ consciĂȘncia, como se tivesse sido roubado a alguma ocupação urgente, ainda que meramente imaginĂĄria. A fim de se justificar perante si mesmo, ele dĂĄ-se ares de uma agitação febril, de um grande afĂŁ, de uma empresa que opera a todo vapor devido Ă urgĂȘncia do tempo e para a qual toda a reflexĂŁo â isto Ă©, ele mesmo â Ă© um estorvo. Com frequĂȘncia tudo se passa como se os intelectuais reservassem para a sua prĂłpria produção precisamente apenas aquelas horas que sobram das suas obrigaçÔes, saĂdas, compromissos, e divertimentos inevitĂĄveis.
Textos sobre FrequĂȘncia de Theodor W. Adorno
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