Para um Grande EspĂrito Nada há que Seja Grande
Evitai tudo quanto agrade ao vulgo, tudo quanto o acaso proporciona; diante de qualquer bem fortuito parai com desconfiança e receio: tambĂ©m a caça ou o peixe se deixa enganar por esperanças falacciosas. Julgais que se trata de benesses da sorte? SĂŁo armadilhas! Quem quer que deseje passar a vida em segurança evite quanto possa estes benefĂcios escorregadios nos quais, pobres de nĂłs, atĂ© nisto nos enganamos: ao julgar possuĂ-los, deixamo-nos apanhar! Esta corrida leva-nos para o abismo; a Ăşnica saĂda para uma vida «elevada», Ă© a queda!
E mais: nem sequer poderemos parar quando a fortuna começa a desviar-nos da rota certa, nem ao menos ir a pique, cair instantaneamente: não, a fortuna não nos faz tropeçar, derruba-nos, esmaga-nos.
Prossegui, pois, um estilo de vida correcto e saudável, comprazendo o corpo apenas na medida do indispensável Ă boa saĂşde. Mas há que tratá-lo com dureza, para ele obedecer sem custo ao espĂrito: limite-se a comida a matar a fome, a bebida a extinguir a sede, a roupa a afastar o frio, a casa a servir de abrigo contra as intempĂ©ries. Que a habitação seja feita de ramos ou de pedras coloridas importadas de longe, Ă© pormenor sem interesse: ficai sabendo que para abrigar um homem tĂŁo bom Ă© o colmo como o ouro!
Textos sobre Frio de SĂ©neca
2 resultadosA Sabedoria na Riqueza
Haverá dĂşvidas de que um homem de sabedoria tem mais condições para desenvolver as suas qualidades no meio das riquezas do que na pobreza? Na pobreza, sĂł há um gĂ©nero de virtude: nĂŁo se curvar nem se abater; na riqueza, a temperança, a liberalidade, a frugalidade, a ordem e a magnificĂŞncia tĂŞm um campo aberto. O sábio nĂŁo se despreÂzará a si prĂłprio, mesmo que seja de baixa estatura; desejará porĂ©m ser elegante. Com um corpo frágil ou com um olho a menos, ele sentir-se-á bem, mas preferirá, contudo, que o seu corpo seja robusto, apesar de saber que, em si, há algo mais forte. Ele tolerará uma saĂşde má, procurando ter uma saĂşde boa. De facto, algumas coisas, ainda que sejam pequenas em relação ao conjunto, quando sĂŁo aproveitadas sem que se arruĂne o bem principal, contribuem para a perpĂ©tua alegria, que nasce da virtude: as riquezas causam ao sábio a mesma impressĂŁo e o mesmo gáudio que causa o vento favorável ao navegador, ou que um belo dia causa num luÂgar enregelado pelo frio do Inverno. Quem, entre os sábios (falo dos nossos, aqueles para os quais a virtude Ă© um bem) nega que mesmo estas coisas, que consideramos indiferentes,