De que Valem a Experiência e o Conhecimento na Velhice?
«Envelheço aprendendo sempre» – Sólon, na sua velhice, repetia muitas vezes este verso. O sentido que esse verso possui permitir-me-ia dizê-lo também na minha; mas é bem triste o conhecimento que, desde há vinte anos, a experiência me fez adquirir: a ignorância ainda é preferível. A adversidade é, sem dúvida, um grande mestre, mas faz pagar caro as suas lições e muitas vezes o proveito que delas se tira não vale o preço que custaram. Aliás, a oportunidade de nos servirmos desse saber tardio passa antes de o termos adquirido.
A juventude é o tempo próprio para se aprender a sabedoria; a velhice é o tempo próprio para a praticar. A experiência instrui sempre, confesso, mas não é útil senão durante o espaço de tempo que temos à nossa frente. É no momento em que se vai morrer que se deve aprender como se deveria ter vivido?
De que me servem os conhecimentos que tão tarde e tão dolorosamente adquiri sobre o meu destino e sobre as paixões alheias de que ele é o fruto? Não aprendi a conhecer os homens senão para melhor sentir a desgraça em que me mergulharam e esse conhecimento, embora me revelasse todas as suas armadilhas,
Textos sobre Fruto de Jean-Jacques Rousseau
2 resultadosDesigualdade Natural e Desigualdade Institucional
É fácil de ver que, entre as diferenças que distinguem os homens, muitas passam por naturais, quando são unicamente a obra do hábito e dos diversos géneros de vida adoptados pelos homens na sociedade. Assim, num temperamento robusto ou delicado, a força ou a fraqueza que disso dependem, vêm muitas vezes mais da maneira dura ou efeminada pela qual foi educado do que da constituição primitiva dos corpos. Acontece o mesmo com as forças do espírito, e a educação não só estabelece a diferença entre os espíritos cultivados e os que não o são, como aumenta a que se acha entre os primeiros à proporção da cultura; com efeito, quando um gigante e um anão marcham na mesma estrada, cada passo representa uma nova vantagem para o gigante. Ora, se se comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a uniformidade da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos, vivem da mesma maneira e fazem exactamente as mesmas coisas, compreender-se-á quanto a diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que no de sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana pela desigualdade de instituição.