A Construção da Personalidade Criadora
A harmonia do comportamento social requer, todos o sabemos, tanto o isolamento como o convĂvio. Excessiva comunicação, debates exagerados de assuntos que requerem meditação e peso moral, avesso muitas vezes Ă cordialidade natural das afinidades electivas, nĂŁo enriquecem o patrimĂłnio de uma sociedade. Antes embotam e alteram o terreno imparcial da sabedoria.
A solidĂŁo favorece a intensidade do pensamento; por outro lado, torna de certo modo celerado o homem que lida com a força material, com a tĂ©cnica, com os outros homens. O impulso Ă© a força que actualiza estas duas atitudes. Os ricos de impulso que se prontificam a uma reacção agressiva ou escandalosa, esses sĂŁo associais especialmente difĂceis. Todo o revolucionário Ă© associal, se o impulso for nele um desvio da vida instintiva, e nĂŁo uma atitude de homem capaz de obedecer e mandar a si prĂłprio.
«A felicidade máxima do filho da terra há-de ser a personalidade» – disse Goethe. Personalidade criadora, obtida Ă custa do ajustamento das nossas prĂłprias leis interiores, que nĂŁo serĂŁo mais, no futuro, forças repelidas ou encobertas, mas sim valiosas contribuições para o tempo do homem. Quando tudo for analisado e conhecido, sĂł o justo há-de prevalecer.
Textos sobre Futuro de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosCom os Costumes andam os Aforismos
Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carácter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventrĂloquo de certas causas que a sociedade nĂŁo confia Ă voz pĂşblica.
Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, tĂŞm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou entĂŁo: «A vida de famĂlia Ă© um ataque Ă vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. NĂŁo está destinada para aqueles que nĂŁo tĂŞm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglĂŞs azedo e endiabrado cujo Manual do Revolucionário fez o encanto da nossa adolescĂŞncia.
Todavia, o aforimo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguĂ©m. O autĂŞntico aforismo nĂŁo Ă© uma arte – Ă© uma espĂ©cie de pastorĂcia cultural. NĂŁo está destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propõe-se transmitir uma orientação. É uma lição, e nĂŁo o pretexto para uma pirueta.
Os aforismos e paradoxos de Karl Kraus tĂŞm esse sabor irreverente que se diferencia da sabedoria, porque há algo de precipitado na sua confissĂŁo. Precisam de ser situados num estado de espĂrito, para serem aceites e compreendidos;