A Nefasta Hiperdemocracia dos Nossos Tempos
NinguĂ©m, creio eu, deplorarĂĄ que as pessoas gozem hoje em maior medida e nĂșmero que antes, jĂĄ que tĂȘm para isso os apetites e os meios. O mal Ă© que esta decisĂŁo tomada pelas massas de assumir as actividades prĂłprias das minorias, nĂŁo se manifesta, nem pode manifestar-se, sĂł na ordem dos prazeres, mas que Ă© uma maneira geral do tempo. Assim (…) creio que as inovaçÔes polĂticas dos mais recentes anos nĂŁo significam outra coisa senĂŁo o impĂ©rio polĂtico das massas. A velha democracia vivia temperada por uma dose abundante de liberalismo e de entusiasmo pela lei. Ao servir a estes princĂpios o indivĂduo obrigava-se a sustentar em si mesmo uma disciplina difĂcil. Ao amparo do princĂpio liberal e da norma jurĂdica podiam atuar e viver as minorias. Democracia e Lei, convivĂȘncia legal, eram sinĂłnimos. Hoje assistimos ao triunfo de uma hiperdemocracia em que a massa actua directamente sem lei, por meio de pressĂ”es materiais, impondo suas aspiraçÔes e seus gostos.
Ă falso interpretar as situaçÔes novas como se a massa se houvesse cansado da polĂtica e encarregasse a pessoas especiais o seu exercĂcio. Pelo contrĂĄrio. Isso era o que antes acontecia, isso era a democracia liberal. A massa presumia que,
Textos sobre Gosto de José Ortega y Gasset
2 resultadosA InteligĂȘncia nĂŁo Ă© o Fundo do nosso Ser
A inteligĂȘncia nĂŁo Ă© o fundo do nosso ser. Pelo contrĂĄrio. Ă como uma pele sensĂvel, tentacular que cobre o resto do nosso volume Ăntimo, o qual por si Ă© sensu stricto ininteligente, irracional. BarrĂšs dizia isto muito bem: L’intelligence, quelle petite chose Ă la surface de nous. AĂ estĂĄ ela, estendida como um dintorno sobre o nosso ser mais interior, dando uma face Ă s coisas, ao ser – porque o seu papel nĂŁo Ă© outro senĂŁo pensar as coisas, pensar o ser, o seu papel nĂŁo Ă© ser o ser, mas reflecti-lo, espelhĂĄ-lo. Tanto nĂŁo somos ela que a inteligĂȘncia Ă© uma mesma em todos, embora uns dela tenham maior porção que outros. Mas a que tiverem Ă© igual em todos: 2 e 2 sĂŁo para todos 4. Por isso AristĂłteles e o averroĂsmo acreditaram que havia um Ășnico noĂ»s ou intelecto no Universo, que todos Ă©ramos, enquanto inteligentes, uma sĂł inteligĂȘncia. O que nos individualiza estĂĄ por trĂĄs dela.
Mas nĂŁo vamos agora espicaçar uma tĂŁo difĂcil questĂŁo. Baste o que foi dito para sugerir que em vĂŁo pretenderĂĄ a inteligĂȘncia lutar num match de convicção com as crenças irracionais, habituais. Quando um cientista sustĂ©m as suas ideias com uma fĂ© semelhante Ă fĂ© vital,