O PortuguĂȘs
Prefere ser um rico desconhecido, a ser um herĂłi pobre. Ă melhor do que parece. O homem portuguĂȘs Ă© dissimulado, e fez da inveja um discurso do bom senso e dos direitos humanos.
Mas é também um homem de paixÔes moderadas pela sensibilidade, o que faz dele um grande civilizado.
Gosta das mulheres, o que explica o estado de dependĂȘncia em que as pretende manter. A dependĂȘncia Ă© uma motivação erĂłtica.
Ă inovador mas tem pouco carĂĄcter, como Ă© prĂłprio dos superiormente inteligentes, tanto cientistas, como filĂłsofos e criadores em geral.
Mente muito, e a verdade que se arroga Ă© uma culpa inibida. Vemos que ele se mantĂ©m num estado primitivo quando defende a sua ĂĄrea de partido, de seita e de famĂlia, Ă custa de corrupçÔes e de crimes, se for preciso.
Gosta do poder mas nĂŁo da notoriedade. NĂŁo tem o sentido da eternidade, mas sim o prazer da liberdade imediata. NĂŁo Ă© democrata; excepto se isso intimidar os seus adversĂĄrios.
Não tem génio, tem habilidade.
Ă imaginativo mas nĂŁo pensador.
Ă culto mas nĂŁo experiente.
NĂŁo gosta da lei, porque ela desvaloriza a sua prĂłpria iniciativa. Ă mĂstico com a fĂĄbula e viril com a desgraça.
Textos sobre Habilidade de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosCom os Costumes andam os Aforismos
Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carĂĄcter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventrĂloquo de certas causas que a sociedade nĂŁo confia Ă voz pĂșblica.
Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, tĂȘm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou entĂŁo: «A vida de famĂlia Ă© um ataque Ă vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. NĂŁo estĂĄ destinada para aqueles que nĂŁo tĂȘm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglĂȘs azedo e endiabrado cujo Manual do RevolucionĂĄrio fez o encanto da nossa adolescĂȘncia.
Todavia, o aforimo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguĂ©m. O autĂȘntico aforismo nĂŁo Ă© uma arte – Ă© uma espĂ©cie de pastorĂcia cultural. NĂŁo estĂĄ destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propĂ”e-se transmitir uma orientação. Ă uma lição, e nĂŁo o pretexto para uma pirueta.
Os aforismos e paradoxos de Karl Kraus tĂȘm esse sabor irreverente que se diferencia da sabedoria, porque hĂĄ algo de precipitado na sua confissĂŁo. Precisam de ser situados num estado de espĂrito, para serem aceites e compreendidos;