Vim para os Teus Braços Chicoteada pela Vida
EntĂŁo tu pensas que há muitos casais como nĂłs por esse mundo? Os nossos mimos, a nossa intimidade, as nossas carĂcias sĂŁo sĂł nossas; no nosso amor nĂŁo há cansaços, nĂŁo há fastios, meu pequenito adorado! Como o meu desequilibrado e inconstante coração d’artista se prendeu a ti! Como um raminho de hera que criou raĂzes e que se agarra cada vez mais. Vim para os teus braços chicoteada pela vida e quando Ă s vezes deito a cabeça no teu peito, passa nos meus olhos, como uma visĂŁo de horror, a minha solidĂŁo tamanha no meio de tanta gente! A minha imensa solidĂŁo de dantes que me pĂ´s frio na alma. Eu era um pequenino inverno que tremia sempre; era como essa roseira que temos na varanda do Castelo que está quase sempre cheia de botões mas que nunca dá rosas! Na vida, agora há sĂł tu e eu, mais ninguĂ©m. De mim nĂŁo sei que mais te dizer: como bem mas durmo mal; falta-me todas as manhĂŁs o primeiro olhar duns lindos olhos claros que sĂŁo todo o meu bem.
Textos sobre Horror de Florbela Espanca
3 resultadosUma Mulher sem Areia Nenhuma
Tenho o santo horror da frieza calculada, da boa educação, do prudente juĂzo duma mulher. Aos homens pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem. Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pĂ© dela e nĂŁo será com certeza ao pĂ© de mim… Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer. Hás-de rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hĂŁo-de ser pequeninos…) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a prĂłpria deusa Minerva com todo o juĂzo que todos os deuses lhe deram.
Tremo por Ti que És o Meu Único Amigo
AntĂłnio,
Tenho imensas coisas que te dizer e nĂŁo sei o que hei-de dizer, tĂŁo arreliada estou e tĂŁo sem cabeça para pensar a coisa mais insignificante deste mundo. Que linda noite, tu vais passar, Amigo querido! E eu? A pensar que a maldade e a estupidez desta vida que no nosso desgraçado paĂs Ă© um horror, me pode fazer o mal maior que a alguĂ©m se pode fazer. Tenho medo, tenho medo, meu amor. Este desassossego contĂnuo põe-me doente e faz-me doida.
Então eu hei-de passar a minha triste vida a tremer por ti? Eu tenho pouca sorte, e quando enfim encontro no meu caminho alguém que gosta de mim, por mim, como se deve gostar, que pensa na minha felicidade, no meu sossego, alguém que se digna ver que eu tenho alma a sentir, quando encontro enfim no mundo o que julgara não encontrar nunca, hei-de andar como o avarento a tremer pelo tesoiro que levou anos, uma vida inteira a conquistar e que lhe podem roubar num momento. Eu tenho pouca sorte! Que Deus tenha piedade de mim.
Quereria dizer-te muitas coisas mas nem sei o que; sĂł tenho vontade de chorar e de gritar desesperadamente,