A História é um Criar e Desfazer de Ilusões
A HistĂłria Ă© um criar e desfazer de ilusões. Em todos os domĂnios, sobretudo no do pensar. Admitamos que Ă© antes um desfazer de ilusões atĂ© Ă verdade final. Cercados do nada, antes e depois, o indivĂduo, a espĂ©cie, a prĂłpria terra, o sistema solar, o universo com a degradação da energia, que Ă© que quer dizer uma «ilusĂŁo»? É o acordar de um sonho num sonho. Que significa o entusiasmo com o desfazer do que nos iludiu? Mas continuar a sonhar num sonho de segundo grau Ă© nĂŁo saber que se continua. Com essa ignorância se faz a grandeza do homem. Ou com o ignorar, mas como se nĂŁo. A verdade perfeita Ă© o nada que nos cerca. Mas no nada nem sequer se sabe que nĂŁo há nada. SĂł portanto na ilusĂŁo pode haver tudo. E, nesse caso, continuemos.
Textos sobre Ignorância de VergĂlio Ferreira
3 resultadosNĂłs Trazemos na Alma uma Bomba
A causa depois do efeito. A minha tese Ă© esta, minha querida – nĂłs trazemos na alma uma bomba e o problema está em alguĂ©m fazer lume para a rebentar. NĂłs escolhemos ser santos ou herĂłis ou traidores ou cobardes e assim. O problema está em vir a haver ou nĂŁo uma oportunidade para isso se manifestar. NĂłs fizemos uma escolha na eternidade. Mas quantos sabem o que escolheram? Alguns tĂŞm a sorte ou a desgraça de alguĂ©m fazer lume para rebentarem o que sĂŁo, ver-se o que estava por baixo do que estava por cima. Mas outros vĂŁo para a cova na ignorância. Ă€s vezes fazem ensaios porque a pressĂŁo interior Ă© muito forte. Ou passam a vida Ă espera de um sinal, um indĂcio elucidativo. Ou passam-na sem saberem que trazem a bomba na alma que Ă s vezes ainda rebenta, mesmo já no cemitĂ©rio. Ou quem diz bomba diz por exemplo uma flor para pormos num sorriso. Ou um penso para pormos num lanho. Mas nĂŁo sabem.
SĂł o Homem Sabe que Ă© Mortal
A Ăşnica certeza da vida Ă© a morte. E Ă© a certeza em que menos se acredita. Toda a histĂłria do mundo assentou sempre na ignorância de que se Ă© mortal. Aqueles mesmo que o sabem nĂŁo o vĂŞem — a nĂŁo ser em instantes de excepção. Que seria o mundo com essa evidĂŞncia sempre presente? SĂł o homem sabe que Ă© mortal. Mas raramente o homem sobe atĂ© si. O animal pesa nele, mesmo no que nĂŁo Ă© do animal. Assim a arte, a cultura, poucas vezes funcionam como o que Ă© para o espĂrito, sendo para o que Ă© da nossa grosseria.