As MĂŁes nĂŁo Descansam
Todas as pessoas tĂŞm direito a descanso, menos as mĂŁes. Para cada tarefa, profissĂŁo ou encargo há direito a uma folga, menos para as mĂŁes. Se alguma mĂŁe demonstrar a mĂnima fadiga de ser mĂŁe, haverá logo uma besta, ignorante de limpar baba e de parir, que se oferecerá para a pĂ´r em causa. NĂŁo Ă© mĂŁe, nĂŁo sabe ser mĂŁe, nĂŁo foi feita para ser mĂŁe, dirá. Mas, se todas as pessoas tĂŞm direito a descanso, será que as mĂŁes nĂŁo sĂŁo pessoas? A culpa Ă© nossa. Sim, a culpa Ă© das mĂŁes. Deixámos que fossem os filhos a definir-nos.
Textos sobre Ignorantes de JosĂ© LuĂs Peixoto
2 resultadosUma Mentira
Uma mentira, fina como um cabelo, perturba para sempre a ordem do mundo. Aquilo que sabemos tem muita importância. Tomamos decisões, vamos por aqui ou por ali, consoante aquilo que sabemos. E tudo o que virá a seguir, o futuro até ao fim dos tempos, será diferente se formos por um lado em vez de irmos por outro. Nascem pessoas devido a insignificâncias, morrem pessoas pelo mesmo motivo. Uma pessoa é uma máquina de coisas a acontecer, possibilidades multiplicadas por possibilidades em todos os instantes do seu tempo. Uma mentira, mesmo que transparente, perturba o entendimento que os outros têm da realidade, leva-os a acreditar que é aquilo que não é. Essa poluição vai turvar-lhes a lógica do mundo. As conclusões a que forem capazes de chegar serão calculadas a partir de um dado falso e, desse ponto em diante, todas as contas serão multiplicações de erros. Uma mentira baralha tudo aquilo em que toca, desequilibra o mundo. É por isso que uma mentira precisa sempre de mentiras novas para se suster. O mundo não lhe dá cobertura. Para alcançar coerência, cada mentira requer a criação apressada de um mundo de mentira que a suporte. É assim que a mentira vai avançando pela verdade adentro,