Sofrer Para Nada Serve

Porque esquecemos os mortos? Porque jĂĄ nĂŁo tĂȘm prĂ©stimo.
Esquecemos, repudiamos uma pessoa triste ou doente, em virtude da sua inutilidade psĂ­quica ou fĂ­sica.
Ninguém se abandonarå a ti, se não vir nisso algum proveito.
E tu? Creio ter-me abandonado uma vez, desinteressadamente. NĂŁo devo, portanto, chorar por ter perdido o objecto daquele abandono. JĂĄ nĂŁo seria desinteressado, nesse caso.
No entanto, vendo quanto se sofre, o sacrifício é antinatural. Ou superior às minhas forças. E chorar é ceder ao mundo, é reconhecer que se procurava algum proveito.
HĂĄ alguĂ©m que renuncie, podendo ter? A caridade nĂŁo Ă© outra coisa que o ideal da impotĂȘncia.
Basta de virtuosa indignação! Se tivesse tido dentes e habilidade, teria apanhado a presa.
Mas isto não impede que a cruz do desiludido, do falido, do sacrificado – eu – seja atroz de suportar. Afinal de contas, o mais famoso dos crucificados era Deus: nem desiludido, nem falido, nem vencido. No entanto, apesar de todo o seu poder, gritou “Eli!”, mas depois dominou-se e triunfou, e já o sabia de antemão. A esse preço, quem não queria ser crucificado?
HĂĄ tantos que morreram desesperados. E esses sofreram mais do que Cristo.

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