O EspĂ­rito Desfaz a Ordem das Coisas

O espĂ­rito aprendeu que a beleza nos faz bons, maus, estĂșpidos ou sedutores. Disseca uma ovelha e um penitente e encontra em ambos humildade e paciĂȘncia. Analisa uma substĂąncia e descobre que, tomada em grandes quantidades, pode ser um veneno, e em pequenas doses, um excitante. Sabe que a mucosa dos lĂĄbios tem afinidades com a do intestino, mas tambĂ©m sabe que a humildade desses lĂĄbios tem afinidades com a humildade de tudo o que Ă© sagrado. O espĂ­rito desfaz a ordem das coisas, dissolve-as e volta a recompĂŽ-las de forma diferente. O bem e o mal, o que estĂĄ em cima e o que estĂĄ em baixo nĂŁo sĂŁo para ele noçÔes de um relativismo cĂ©ptico, mas termos de uma função, valores que dependem do contexto em que se encontram. Os sĂ©culos ensinaram-lhe que os vĂ­cios se podem transformar em virtudes e as virtudes em vĂ­cios, e conclui que, no essencial, sĂł por inĂ©pcia se nĂŁo consegue fazer de um criminoso um homem Ăștil no tempo de uma vida. NĂŁo reconhece nada como lĂ­cito ou ilĂ­cito, porque tudo pode ter uma qualidade graças Ă  qual um dia participarĂĄ de um novo e grande sistema. Odeia secretamente como a morte tudo aquilo que se apresenta como se fosse definitivo,

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