Textos sobre Imprudentes de Agustina Bessa-LuĂ­s

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Textos de imprudentes de Agustina Bessa-LuĂ­s. Leia este e outros textos de Agustina Bessa-LuĂ­s em Poetris.

Para o Jornalista, Tudo o que é Provável é Verdade

«Para o jornalista, tudo o que Ă© provável Ă© verdade». Trata-se dum axioma estupendo, como tudo o que Balzac inventa. Reflectindo nele, nĂłs percebemos quantas falsidades se explicam e quantas arranhadelas na sensibilidade se resumem a fanfarronices e nĂŁo a conhecimento dos factos. Em geral, o pequeno jornalista Ă© um profeta da Imprensa no que toca a banalidades, e um imprudente no que se refere a coisas sĂ©rias. Quando Balzac refere que a crĂ­tica sĂł serve para fazer viver o crĂ­tico, isto estende-se a muitas outras tendĂŞncias do jornalista: o folhetinista, que Ă© o que Camilo fazia nas gazetas do Porto (…). Eu prĂłpria nĂŁo estou isenta duma soma de articulismos, de recursos Ă  blague, de graças adaptáveis, de frequentação do lado mau da imaginação, de ridĂ­culos, de fastidiosos conselhos, de discursos convencionais, de condenações fáceis, de birras imbecis, de poesia de barbeiro, de elegâncias chatas, de canibalismo vulgar, de panfletismo «bom cidadĂŁo». Quando nĂŁo sou nada disso, sou assunto para jornais, mas nĂŁo sou jornalista.

Os Portugueses SĂŁo Profundamente Vaidosos

Os Portugueses são profundamente vaidosos. Quando me dizem que eu sou muito vaidosa, eu, nisso, sinto-me muito portuguesa. Quando, por exemplo, os Franceses me dizem, com uma linguagem muito catedrática, «eu conheço muito bem os Portugueses através de toda essa onda de emigração, eles são muito humildes e dizem que o lugar onde gostariam de morrer seria em França», eu digo «tenha cuidado, o português mente sempre. É como o japonês, mente sempre.» Porque tem receio de mostrar o seu complexo de superioridade. Ele acha que é imprudente e que é até disparatado, mas que faz parte da sua natureza. Portanto, apresenta uma espécie de capa e de fisionomia de humildade, modéstia, submissão. Mas não é nada disso, é justamente o contrário. Houve épocas da nossa História em que a sua verdadeira natureza pôde expandir-se sem cair no ridículo, mas há outras em que não. E então, para se defender desse ridículo, o português parece essa pessoa modesta, cordata, que não levanta demasiados problemas, seja aos regimes seja na sua vida particular.