A Felicidade é uma Interrupção de Futilidade
É nas decisões fĂşteis, das quais nem a vida nem o estado de espĂrito depende, que reside a felicidade.
São estes os dias felizes, que Beckett invoca e amaldiçoa, por terem passado, na peça que tem o mesmo nome. Somos sobressaltados por ninharias, que conseguem fazer-se passar por importantes, como escolher entre uma camisa do verde do mar ou do azul do céu.
As decisões fĂşteis, quando a cabeça Ă© desocupada daquilo que a preocupa, para se ocupar de uma ninharia, como decidir entre o ruivo ou o rascasso ou entre a pĂŞra -pĂ©rola e a carapinheira, sĂŁo o indĂcio seguro da felicidade. Se a escolha primária Ă© entre continuar a viver e deixar de viver e as escolhas secundárias sĂŁo afluentes da primeira, devemos dar graças.
SĂŁo uma sorte temporária e alegre a oportunidade e a ocupação mental que nos permitem pensar mais naquilo que nos interessa, sem interessar, do que naquilo que nos deveria interessar, caso estivĂ©ssemos tĂŁo aflitos que nĂŁo conseguĂssemos pensar noutra coisa senĂŁo sobreviver.
Quanto mais tempo perdermos nas escolhas e nas questões de que nĂŁo dependem as nossas vidas ou as nossas almas – naquelas que nĂŁo interessam, a bem ver,
Textos sobre IndĂcios de Miguel Esteves Cardoso
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