Personalidade Limitada
HĂĄ pessoas muito competentes no seu ofĂcio mas que nunca se adaptam a certos obstĂĄculos menores, como a nomes que desconhecem e saem do habitual. TambĂ©m nunca sabem usar uma chave de fendas e nĂŁo sĂŁo capazes de conhecer uma marca de carros pelas jantes, por exemplo. Cada indivĂduo tem um espaço muito limitado de operação e o seu cĂ©rebro trabalha num pequeno circuito de observaçÔes; a sua evolução Ă© restrita ao que o rodeia e aos factos exteriores mais prĂłximos. A educação sem grandes exigĂȘncias de comportamento social e intelectual, leva-os a formar uma personalidade mesquinha, Ă s vezes ressentida e admiradora de extremos, como da liderança dum chefe.
Textos sobre IndivĂduo de Agustina Bessa-LuĂs
3 resultadosA CrĂtica Ă© Menos Eficaz do que o Exemplo
A crĂtica Ă© menos eficaz do que o exemplo. Ă de considerar se a grande sugestĂŁo para usar da crĂtica nos nossos tempos e que pĂ”e em causa todos os valores consagrados, nĂŁo Ă© o resultado duma anemia profunda do acto de vontade de toda uma sociedade. Todos temos consciĂȘncia de como o exemplo se tornou interdito, como o indivĂduo, na sua excepção perturbadora, Ă© causa de mal-estar. Dir-se-ia que a fraqueza, a breve virtude, a mediocridade, de interesses e de condiçÔes, tĂȘm prioridade sobre o modelo e a utopia. A par desta dimensĂŁo rasa do despotismo do demĂ©rito, levanta-se uma rajada de violĂȘncia. Ă de crer que a violĂȘncia Ă© hoje a linguagem bastarda da desilusĂŁo e o reverso do exemplo; representa a frustração do exemplo.
Com os Costumes andam os Aforismos
Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carĂĄcter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventrĂloquo de certas causas que a sociedade nĂŁo confia Ă voz pĂșblica.
Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, tĂȘm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou entĂŁo: «A vida de famĂlia Ă© um ataque Ă vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. NĂŁo estĂĄ destinada para aqueles que nĂŁo tĂȘm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglĂȘs azedo e endiabrado cujo Manual do RevolucionĂĄrio fez o encanto da nossa adolescĂȘncia.
Todavia, o aforimo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguĂ©m. O autĂȘntico aforismo nĂŁo Ă© uma arte – Ă© uma espĂ©cie de pastorĂcia cultural. NĂŁo estĂĄ destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propĂ”e-se transmitir uma orientação. Ă uma lição, e nĂŁo o pretexto para uma pirueta.
Os aforismos e paradoxos de Karl Kraus tĂȘm esse sabor irreverente que se diferencia da sabedoria, porque hĂĄ algo de precipitado na sua confissĂŁo. Precisam de ser situados num estado de espĂrito, para serem aceites e compreendidos;