O Individual como Base do Colectivo
Tudo quanto é apenas colectivo é desordem. A ordem vem da composição individual. Mas a composição individual para formar em si a ordem necessita de que esta também se projecte no colectivo.
A expressĂŁo do colectivo Ă© o pĂąnico. O terror sĂł se submete pelo terror. O pĂąnico tem duas expressĂ”es de terror: a centrĂfuga e a centrĂpeta. A expressĂŁo que se desfaz a si mesma e a que permanece estĂĄtica e se adentra.A Ășnica maneira de aparentar a ordem no colectivo Ă© manejar o pĂąnico. Mas como todo o estado psĂquico, por mais inteiro que se apresente tende a suavizar-se se era violento e a tornar-se violento se era suave, Ă© necessĂĄrio para manter o estado de pĂąnico, que se lhe estabeleçam tantas modalidades diferentes e sucessivas que consigam realmente fazer desviar as atençÔes da sua insistĂȘncia. PorĂ©m, este processo nĂŁo tem fim. Ă o processo da mĂstica colectiva. Filha do desespero individual, a mĂstica colectiva nĂŁo faz alterar a realidade mas consegue temporĂĄriamente submeter todos os indivĂduos Ă s mesmas circunstĂąncias. E atĂ© que se formem as novas Ă©lites as mĂsticas colectivas sĂŁo espera.
Ao vermos os grandes exércitos, reluzentes nas paradas ou disfarçados com a própria cor da terra das batalhas,
Textos sobre IndivĂduo de Almada Negreiros
4 resultadosA Colectividade como IndivĂduo Imortal
A colectividade, apesar de ser o conjunto de todos os seus indivĂduos, funciona exactamente como um indivĂduo a mais. Assim como se no mundo houvesse toda a gente que existe e mais uma pessoa: esta pessoa seria exactamente todos num sĂł. A colectividade Ă© tambĂ©m um indivĂduo, um indivĂduo como qualquer outro, mas Ă© o indivĂduo colectivo, na verdade colectivo e indivĂduo. Com a vantagem sobre qualquer outro de nĂŁo estar sujeito, como nĂłs, Ă s vacilaçÔes de um organismo mortal. A colectividade Ă© o indivĂduo imortal. Feito da mesma massa humana que qualquer de nĂłs, os indivĂduos mortais.
MatĂ©ria e EspĂrito
NĂłs hoje estamos ao mesmo tempo na melhor Ă©poca da humanidade e na pior. TĂŁo depressa sentimos que tudo em nĂłs e em redor marcha unĂssono em frente, como subitamente um grande atrito emperra as nossas prĂłprias articulaçÔes. HĂĄ ao mesmo tempo qualquer coisa que nos desacompanha e qualquer coisa que nos anima. HĂĄ caminhos inteiros que terminam sĂșbito e nĂŁo hĂĄ caminho inteiro e vitalĂcio. E nĂłs desejamos francamente acertar com a direcção Ășnica e onde o Ășnico obstĂĄculo seja de verdade o mistĂ©rio do futuro.
Todo aquele que se lance mais animado pela palavra espĂrito, nĂŁo creia que faz mais do que estar sujeito a uma determinante actual. A consciĂȘncia material, como acontece hoje, dĂĄ entrada natural para o campo do espĂrito. Assim tambĂ©m o espĂrito tem existĂȘncia vital segundo a qualidade de consciĂȘncia da matĂ©ria. O espĂrito apartando da matĂ©ria nĂŁo Ă© deste mundo. EspĂrito e matĂ©ria confundem-se em vida.
Acontece, porĂ©m, que os fugitivos da matĂ©ria transformam em si esse unilateralismo ao ingressar no espĂrito, e ficam outra vez de banda, inversamente agora, mas como antes. Ora o espĂrito nĂŁo tem mais dimensĂ”es do que a matĂ©ria; sĂŁo outras, mas idĂȘnticas, que se justapĂ”em,
Uma Direcção, e Não SoluçÔes
A diferença entre solução e direcção Ă© esta: a solução Ă© sempre um remĂ©dio passageiro para disfarçar a desgraça. Ao passo que a direcção Ă© a prĂłpria dignidade posta nas mĂŁos do desgraçado para que deixe de o ser, e a direcção Ășnica Ă© a garantia perpĂ©tua dessa dignidade. E foi o que fez Goethe: Descobriu a direcção Ășnica. Artista, na verdadeira acepção da palavra; Artista Ă© aquele que precede a prĂłpria ciĂȘncia. Por isso Goethe afastou-se de quantas realidades irrealizĂĄveis onde costumam habitar instaladas as gentes. E impassĂvel, desde cima, assistiu ao desenrolar da tragĂ©dia. E viu o mundo inteiro por cima de todas as cabeças, e viu a Europa toda e com cada um dos seus pedaços, e viu cada indivĂduo da Humanidade como um pequenino astro tonto que nem sabe sequer ir na parĂĄbola da sua prĂłpria trajectĂłria, e viu que de todos os seres deste mundo o Ășnico que errava o seu fim era o Homem, o dono da Terra! E viu que era na Humanidade que estavam os Ășnicos seres deste mundo que nĂŁo cumpriam com o seu prĂłprio destino, e finalmente viu! Viu com os seus prĂłprios olhos o que ninguĂ©m tinha visto antes dele.