Felicidade Aparente
Ao reflectir sobre a frescura das recordações, sobre a cor encantada de que elas se revestem num passado longĂnquo, nĂŁo pude deixar de admirar esse trabalho involuntário da alma que separa e suprime na recordação desses momentos agradáveis tudo o que poderia diminuir o encanto do momento entĂŁo vivido.
(…) Poderá uma pessoa afirmar ter sido feliz num determinado momento da sua vida, que lhe parece encantador retrospectivamente? O prĂłprio facto de o recordar ao dar-se conta da felicidade que entĂŁo deve ter sentido deve satisfazĂŞ-lo. Mas ter-se-ia sentido efectivamente feliz nesse instante de pretensa felicidade?
Pode-se compara essa pessoa com um indivĂduo que possuĂsse uma parcela de terra em que estivesse escondido um tesouro, do qual ele, contudo, nĂŁo teria conhecimento. Poder-se-Ă considerar «rico» esse homem? Do mesmo modo nĂŁo considero feliz aquele que o Ă© sem se aperceber disso, ou sem saber a que ponto monta a sua felicidade.
Textos sobre IndivĂduo de Eugène Delacroix
2 resultadosÉ por ter EspĂrito que me Aborreço
É preciso esconjurar, da forma que nos for possĂvel, este diabo de vida que nĂŁo sei porque Ă© que nos foi dada e que se torna tĂŁo facilmente amarga se nĂŁo opusermos ao tĂ©dio e aos aborrecimentos uma vontade de ferro. É preciso, numa palavra, agitar este corpo e este espĂrito que se delapidam um ao outro na estagnação e numa indolĂŞncia que se confunde com um torpor. É preciso passar, necessariamente, do descanso ao trabalho – e reciprocamente: sĂł assim estes parecerĂŁo, ao mesmo tempo, agradáveis e salutares. Um desgraçado que trabalhe sem cessar, sob o peso de tarefas inadiáveis, deve ser, sem dĂşvida, extremamente infeliz, mas um indivĂduo que nĂŁo faça mais do que divertir-se nĂŁo encontrará nas suas distracções nem prazer nem tranquilidade; sente que luta contra o tĂ©dio e que este o prende pelos cabelos – como se fosse um fantasma que se colocasse sempre por detrás de cada distracção e espreitasse por cima do nosso ombro.
NĂŁo julgue, cara amiga, que eu sĂł porque trabalho regularmente estou isento das investidas deste terrĂvel inimigo; penso que, quando se tem uma certa disposição de espĂrito, Ă© preciso termos uma imensa energia de forma a nĂŁo nos deixarmos absorver e conseguir escapar,