É Fundamental Cultivar Interesses Exteriores
Uma das causas da infelicidade, da fadiga e da tensão nervosa é a incapacidade para tomar interesse por tudo o que não tenha uma importância prática na vida. Daí resulta que o consciente está sempre ocupado com um número restrito de problemas, cada um dos quais comporta certamente algumas inquietações e cuidados. A não ser no sono, o consciente nunca repousa para o subconsciente amadurecer gradualmente os problemas inquietantes. Sobrevem assim a excitabilidade, a falta de prudência, a irritabilidade e a perda do sentido das proporções. Tudo isto tanto são causas como efeitos da fadiga. À medida que aumenta a fadiga no homem, diminuem os seus interesses exteriores, e à medida que estes diminuem perde o descanso que eles lhe proporcionavam e fatiga-se ainda mais.
Este círculo vicioso não pode deixar de conduzir a uma depressão nervosa. O que é repousante nos interesses exteriores é o facto de não exigirem qualquer acção. Tomar decisões e exercer a sua vontade é bastante fatigante, especialmente quando é necessário fazê-lo apressadamente e sem o auxílio do subconsciente. Têm razão os que pensam que «a noite é boa conselheira» e que devem dormir primeiro antes de tomar alguma decisão importante, mas não é somente no sono que o processo mental do subconsciente pode realizar-se.
Textos sobre Inquietação
39 resultadosO Paradoxo do Entendimento
Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro – preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana.
A Amizade Ideal
Nada é mais agradável à alma do que uma amizade terna e fiel. É bom encontrarmos corações atenciosos, aos quais podes confiar todos os teus segredos sem perigo, cujas consciências receias menos do que a tua, cujas palavras suavizam as tuas inquietações, cujos conselhos facilitam as tuas decisões, cuja alegria dissipa a tua tristeza, cuja simples aparição te deixa radiante! Tanto quanto for possível, devemos escolher aqueles que estão livres de afecções: de facto, os vícios rastejam, passam de pessoa para pessoa com a proximidade e qualquer contacto com eles pode ser prejudicial.
Tal como numa epidemia, devemos ter o cuidado de não nos aproximarmos das pessoas afectadas, porque correremos perigo só de respirarmos perto delas, também, em relação aos amigos, devemos ter o cuidado de escolher aqueles que estão menos corrompidos: a doença começa quando se misturam os homens saudáveis com os doentes. Não estou, com isto, a exigir-te que procures e sigas apenas o sábio: de facto, onde encontrarás um homem destes, que procuro há tanto tempo? Procura o menos mau, antes de procurares o óptimo.
(…) Evitemos, sobretudo, os temperamentos tristes, que se lamentam de tudo e não deixam escapar uma única ocasião de se queixarem.
De Que Vale a Sabedoria ?
Os homens que se entregam à sabedoria são de longe os mais infelizes. Duplamente loucos, esquecem que nasceram homens e querem imitar os deuses poderosos, e a exemplo dos Titãs, armados com as ciências e as artes, declaram guerra à Natureza. Ora, os menos infelizes são aqueles que mais se aproximam da animalidade e da estupidez.
Tentarei fazer-vos entender isto, usando, em vez dos argumentos dos estóicos, um exemplo crasso. Haverá, pelos deuses imortais, espécie mais feliz que os homens a quem o vulgo chama loucos, parvos, imbecis, cognomes belíssimos, na minha opinião? Esta afirmação poderá a princípio parecer insensata e absurda e, no entanto, nada há de mais verdadeiro. Tais homens não receiam a morte, e, por Júpiter! isso já não representa pequena vantagem! A sua consciência não os incomoda. As histórias de fantasmas não os aterrorizam, nem os afecta o medo das aparições e espectros, nem os males que os ameaçam ou a esperança dos bens que poderão vir a receber. Nada, em resumo, os atormenta, isentos dos mil cuidadeos de que a vida é feita. Ignoram a vergonha, o medo, a ambição, a inveja e chegam mesmo, se são suficientemente estúpidos, a gozar o privilégio, segundo os teólogos,
Onde Será a Terra Prometida?
Triste época a nossa! Para que oceano correrá esta torrente de iniquidades? Para onde vamos nós, numa noite tão profunda? Os que querem tactear este mundo doente retiram-se depressa, aterrorizados com a corrupção que se agita nas suas entranhas.
Quando Roma se sentiu agonizar, tinha pelo menos uma esperança, entrevia por detrás da mortalha a Cruz radiosa, brilhando sobre a eternidade. Essa religião durou dois mil anos, mas agora começa a esgotar-se, já não basta, troçam dela; e as suas igrejas caem em ruínas, os seus cemitérios transbordam de mortos.
E nós, que religião teremos nós? Sermos tão velhos como somos, e caminharmos ainda no deserto, como os Hebreus que fugiam do Egipto.
Onde será a Terra prometida?
Tentámos tudo e renegámos tudo, sem esperança; e depois uma estranha ambição invadiu-nos a alma e a humanidade, há uma inquietação imensa que nos rói, há um vazio na nossa multidão; sentimos à nossa volta um frio de sepulcro.
A humanidade começou a mexer em máquinas, e ao ver o ouro que nelas brilhava, exclamou: «É Deus!» E come esse Deus. Há – e é porque tudo acabou, adeus! adeus! – vinho antes da morte! Cada um se precipita para onde o seu instinto o impele,
Felicidade e Prazer
Devemos estudar os meios de alcançar a felicidade, pois, quando a temos, possuímos tudo e, quando não a temos, fazemos tudo por alcançá-la. Respeita, portanto, e aplica os princípios que continuadamente te inculquei, convencendo-te de que eles são os elementos necessários para bem viver. Pensa primeiro que o deus é um ser imortal e feliz, como o indica a noção comum de divindade, e não lhe atribuas jamais carácter algum oposto à sua imortalidade e à sua beatitude. Habitua-te, em segundo lugar, a pensar que a morte nada é, pois o bem e o mal só existem na sensação. De onde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte nada ser nos permite fruir esta vida mortal, poupando-nos o acréscimo de uma ideia de duração eterna e a pena da imortalidade. Porque não teme a vida quem compreende que não há nada de temível no facto de se não viver mais. É, portanto, tolo quem declara ter medo da morte, não porque seja temível quando chega, mas porque é temível esperar por ela.
É tolice afligirmo-nos com a espera da morte, visto ser ela uma coisa que não faz mal, uma vez chegada. Por conseguinte, o mais pavoroso de todos os males,
O Antagonismo Racial
O elemento puramente instintivo não constitui senão uma pequena parte do ódio racial e não é difícil de vencer. O medo do que é estrangeiro, que é a sua principal essência, desaparece com a familiaridade. Se nenhum outro elemento o formasse, toda a perturbação desapareceria logo que pessoas de raças diferentes se habituassem umas às outras. Mas há sempre pretextos para se odiarem os grupos estrangeiros. Os seus hábitos são diferentes dos nossos e portanto (em nossa opinião) piores. Se triunfam, é porque nos roubam as oportunidades; se não triunfam, é porque são miseráveis vagabundos. A actual população do mundo descende dos sobreviventes de longos séculos de guerras e por instinto está à espreita de ocasiões de hostilidade colectiva.
O desejo de ter um inimigo fixa-se no coração desse instinto racista e constrói à sua volta um edifício monstruoso de crueldade e de loucura. Tais conflitos representam hoje uma catástrofe universal e não já somente, como outrora, um desastre para os vencidos: daí as inquietações do nosso tempo. É por isso que é mais importante do que nunca conseguir um certo grau de domínio racional sobre os nossos sentimentos destruidores.
Em geral o ódio racial tem duas origens,
Atravessámos e Vencemos Tudo
Olho para o passado com embriaguês, mas não é com menos deslumbramento que encaro o nosso futuro. Eis-nos, agora, um do outro para todo o sempre, sem ansiedades, sem inquietações, sem angústias. Atravessámos e vencemos tudo o que era mau e que poderia ser fatal. Estamos na plena posse dos nossos dois destinos fundidos num só. O nosso amor não terá a frescura dos primeiros tempos, mas é um amor posto à prova, um amor que conhece a sua força, e que mesmo para além do túmulo, espera ser infinito. O amor, quando nasce, só vê a vida, o amor que dura vê a eternidade.
O Amor é…
O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força.
O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz.
O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda.
Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te.
O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso.
O Mais Raro De Todos
São apreciados, como algo de raro, aqueles que sabem ouvir calma e atentamente; igualmente raro é um verdadeiro leitor e o mais raro de todos é aquele que deixa que os seus semelhantes actuem sobre ele sem, constantemente, com a sua inquietação interior, vaidade ou egoísmo, destruir ou mesmo aniquilar a impressão.
A Escrita Exige Sempre a Poesia
Sou escritor e cientista. Vejo as duas actividades, a escrita e a ciência, como sendo vizinhas e complementares. A ciência vive da inquietação, do desejo de conhecer para além dos limites. A escrita é uma falsa quietude, a capacidade de sentir sem limites. Ambas resultam da recusa das fronteiras, ambas são um passo sonhado para lá do horizonte. A Biologia para mim não é apenas uma disciplina científica mas uma história de encantar, a história da mais antiga epopeia que é a Vida. É isso que eu peço à ciência: que me faça apaixonar. É o mesmo que eu peço à literatura.
Muitas vezes jovens me perguntam como se redige uma peça literária. A pergunta não deixa de ter sentido. Mas o que deveria ser questionado era como se mantém uma relação com o mundo que passe pela escrita literária. Como se sente para que os outros se representem em nós por via de uma história? Na verdade, a escrita não é uma técnica e não se constrói um poema ou um conto como se faz uma operação aritmética. A escrita exige sempre a poesia. E a poesia é um outro modo de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam.
És Linda
És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusão. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços da angústia do olhar. Não esqueci a intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar. És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.
A Espera Do Prazer
O prazer que tu esperas varia na razão inversa do tempo de o esperares. E da inquietação também. Porque quanto mais esperas e te inquietas, menos prazer ele é. Espera-o no infinito para te não inquietares. E que ele seja depois o prazer que for.
Mas o contrário também é verdadeiro.
O Medo de Viver
Como contacto praticamente permanente com a lógica surgiu-me um sentimento que nunca antes eu experimentara: o medo de viver, o medo de respirar. Com urgência preciso lutar porque esse medo me amarra mais do que o medo da morte, é um crime contra mim mesmo. Estou com saudade de meu anterior clima de aventura e minha estimulante inquietação. Acho que ainda não caí na monotonia de viver.
A Embriaguez e Seriedade da Juventude
Passada a adolescência, é possível conhecer-se alegrias, mas não já a embriaguez. Tapar os buracos das peúgas uns com os outros! Ter medo de perder o comboio! Ter o dinheiro à justa para a viagem e recear que à última hora um irmão ainda a dormir surripie a quantia! Talvez porque a embriaguez venha do facto da inquietação e das hesitações se tornarem mais angustiantes quando tudo se ignora. Não teria qualquer aventura amorosa em Nantes? Quem diz «amor» diz pistola, e pistola era coisa que eu não tinha. Ora o que nesta viagem mais me surpreendeu foi terem-me reconhecido, em casa de um sapateiro, por certa parecença com uma velha parente minha e o elogio que ouvi fazerem dessa criatura cuja vida eu considerava nula. Os jovens levam tudo a sério, ainda que não saibam conferir um ar sério àquilo que levam. Na realidade, experimentam apenas emoções desproporcionadas.
Uma Significação para a Vida
Como é que o homem vai viver sem uma significação para a vida? Donde essa significação? Os sucedâneos dos deuses atropelam-se tumultuosos, mas duram menos que os deuses, duram menos que um homem. Imaginei um dia que o homem viria a aceitar a sua condição em plenitude. Só não imagino esse homem. Porque imaginando-o como me é possível, penso que admitirá uma transcendência inominável, uma dimensão que supere o imediato da vida. Só que o pensá-lo não me afecta o sentir. Tenho o enigma mas não a chave que o desvende. Sei a interrogação, mas não posso convertê-la na pergunta a que se dá uma resposta. Da integração do homem no mistério do universo o que me fica é a vertigem. Mas aguento-me aí sem me retirar do abismo nem cair nele. O curioso é que são os «racionalistas» quem menos se perturba com a sem-razão de tudo isto. Porque eles é que deviam saber, mais do que os outros, o porquê e o para quê. Não querem. O mundo existe-lhes assim mesmo, sem significação. Para mim me existe também. Mas isso aturde-me. A velhice que se anuncia, anuncia-me a aceitação e a serenidade. Mas não me anuncia a liquidação do problema.
A Genética Condiciona a Felicidade
Uma era de felicidade simplesmente não é possível porque as pessoas querem apenas desejá-la, mas não possuí-la, e cada indivíduo aprende durante os seus bons tempos a de facto rezar por inquietações e desconforto. O destino do homem está projetado para momentos felizes — toda a vida os têm —, mas não para eras felizes. Estas, porém, permanecerão fixadas na imaginação humana como “o que está além das montanhas”, como um legado de nossos ancestrais: pois o conceito de uma era de felicidade foi sem dúvida adquirido nos tempos primordiais, a partir da condição em que, depois de um esforço violento na caça e na guerra, o homem se entrega ao repouso, estica os membros e sente as asas do sono roçando a sua pele. Será uma falsa conclusão se, na trilha dessa remota e familiar experiência, o homem imaginar que, após eras inteiras de labor e inquietação, ele poderá usufruir, de modo correspondente, daquela condição de felicidade intensa e prolongada.
O Preço da Elevada Conduta
Conduta e carácter do homem vulgar: nunca em si próprio busca proveito ou pena, antes se atém às coisas exteriores. Conduta e carácter do filósofo: todo o proveito e pena surtem do íntimo de si próprio.
Sinais daquele que evolui: não insulta ninguém, não louva ninguém, não se queixa de ninguém, não acusa ninguém, nada diz de si próprio como coisa importante – e nunca afirma saber o que quer que seja. Quando embaraçado e contrariado, só a si próprio se responsabiliza. Se o louvam, ri-se discretamente de quem o louva – e se o insultam, de nada se justifica. Comporta-se como os convalescentes, e teme enfraquecer o que se consolida antes de recuperar toda a sua firmeza.
Suprimiu em si qualquer espécie de vontade, e animosidades também: só faz pairar uma e outras sobre as únicas coisas que, contrárias à natureza, dependem de nós. Os seus arrebatamentos quase nunca o são. E caso o tenham na conta de estúpido ou ignorante – nenhuma inquietação o toma. Numa palavra: desafia-se a si próprio como se fora um inimigo de quem temesse várias armadilhas.
O orgulho acarreta a ruína e muita inquietação
O orgulho acarreta a ruína e muita inquietação.
Nada é Tão Fatigante Como a Indecisão
A fadiga (do homem da cidade) é devida a inquietações que poderiam ser evitadas por uma melhor filosofia da vida e um pouco mais de disciplina mental. A maior parte dos homens e mulheres não governam eficazmente os seus pensamentos. Quero com isto dizer que eles não podem deixar de pensar nos assuntos que os atormentam, mesmo quando nesse momento nenhuma solução lhes podem dar. Os homens levam muitas vezes para a cama as suas inquietações em matérias de negócios e, durante a noite, quando deviam ganhar novas forças para enfrentar os dissabores do dia seguinte, é nelas que pensam, repetidas vezes, embora nesse instante nada possam fazer; e pensam nos problemas que os inquietam, não de forma a encontrar uma linha de conduta firme para o dia seguinte, mas nessa semi-demência que caracteriza as agitadas meditações da insónia.
De manhã, qualquer coisa dessa demência nocturna persiste ainda neles, obscurece-lhes o julgamento, rouba-lhes a calma, de forma que qualquer obstáculo os enfurece. O homem sensato só pensa nas suas inquietações quando julga de interesse fazê-lo; no restante tempo pensa noutras coisas e à noite não pensa em coisa nenhuma. Não quero dizer que numa grande crise, por exemplo, quando a ruína está iminente,