EspĂritos Dirigentes e seus Instrumentos
Vemos grandes estadistas e, em geral, todos aqueles, que devem servir-se de muitas pessoas para a execução dos seus planos, comportarem-se ora de uma maneira, ora de outra: ou seleccionam muito apurada e cuidadosamente as pessoas que convĂȘm aos seus projectos e lhes deixam, depois, uma liberdade relativamente grande, porque sabem que a natureza desses indivĂduos escolhidos os impele precisamente para onde eles prĂłprios querem que eles vĂŁo; ou, entĂŁo, escolhem mal, pegam mesmo no que tĂȘm Ă mĂŁo, mas formam a partir desse barro algo que serve para os seus fins. Este Ășltimo gĂ©nero Ă© o mais violento, tambĂ©m o que procura instrumentos mais submissos; o seu conhecimento dos homens Ă©, habitualmente, muito mais escasso, o seu desprezo pelos homens Ă© maior do que no caso dos espĂritos mencionados em primeiro lugar, mas a mĂĄquina, que eles constroem, trabalha melhor, de maneira geral, que a mĂĄquina saĂda da oficina daqueles.
Textos sobre Instrumento de Friedrich Nietzsche
3 resultadosA Sabedoria do Corpo
Tu dizes «eu» e orgulhas-te desta palavra. Mas hå qualquer coisa de maior, em que te recusas a aceditar, é o teu corpo e a sua grande razão; ele não diz Eu, mas procede como Eu.
Aquilo que a inteligĂȘncia pressente, aquilo que o espĂrito reconhece nunca em si tem o seu fim. Mas a inteligĂȘncia e o espĂrito quereriam convencer-te que sĂŁo o fim de todas as coisas; tal Ă© a sua soberba.
InteligĂȘncia e espĂrito nĂŁo passam de instrumentos e de brinquedos; o Em si estĂĄ situado para alĂ©m deles. O Em si informa-se tambĂ©m pelos olhos dos sentidos, ouve tambĂ©m pelos ouvidos do espĂrito.
O Em si estå sempre à escuta, alerta; compara, submete; conquista, destrói. Reina, e é também soberano do Eu.
Por detrĂĄs dos teus pensamentos e dos teus sentimentos, meu irmĂŁo, hĂĄ um senhor poderoso, um sĂĄbio desconhecido: chama-se o Em si. Habita no teu corpo, Ă© o teu corpo.
HĂĄ mais razĂŁo no teu corpo do que na prĂłpria essĂȘncia da tua sabedoria.
Aparentes Fazedores do Tempo na PolĂtica
Tal como o povo, perante quem seja entendido no tempo e o preveja com um dia de antecedĂȘncia, admite tacitamente que ele faz o tempo, assim tambĂ©m mesmo pessoas cultas e doutas, recorrendo a uma fĂ© supersticiosa, atribuem aos grandes estadistas todas as alteraçÔes e conjunturas importantes que se deram durante o seu governo, como se estas fossem a sua obra mais pessoal, quando Ă© simplesmente visĂvel que aqueles souberam alguma coisa do assunto mais cedo do que outros e fizeram o seu cĂĄlculo em conformidade: portanto, sĂŁo tambĂ©m tomados por fazedores do tempo… e essa crença nĂŁo Ă© o mais insignificante instrumento do seu poder.