InteligĂȘncia e Conhecimento nĂŁo Definem o Homem
NĂŁo se pode definir o homem pelos dotes ou meios com que conta, jĂĄ que nĂŁo estĂĄ dito que esses dotes, esses meios, logrem o que os seus nomes pretendem, ou melhor, que sejam adequados Ă pavorosa lide em que, queira ou nĂŁo, estĂĄ. Dito de outro modo: o homem nĂŁo se ocupa em conhecer, em saber, simplesmente porque tenha dons cognoscitivos, inteligĂȘncia, etc. – mas ao contrĂĄrio porque nĂŁo tem outro remĂ©dio que intentar conhecer, saber, mobilizando os meios de que dispĂ”e, embora estes sirvam muito mal para aquele mister. Se a inteligĂȘncia humana fosse de verdade o que a palavra indica – capacidade de entender – o homem teria imediatamente entendido tudo e estaria sem nenhum problema, sem lide penosa pela frente.
NĂŁo estĂĄ, pois, dito que a inteligĂȘncia do homem seja, com efeito, inteligĂȘncia; em troca, a lide em que o homem anda irremediavelmente metido, isso sim Ă© que Ă© indubitĂĄvel – e, portanto, isso sim Ă© o que o define! Essa lide – segundo dissemos – chama-se «viver» e o viver consiste em que o homem estĂĄ sempre em alguma circunstĂąncia, onde se acha de imediato e sem saber como, submerso, projectado num orbe ou contorno insubstituĂvel,
Textos sobre InteligĂȘncia de JosĂ© Ortega y Gasset
2 resultadosA InteligĂȘncia nĂŁo Ă© o Fundo do nosso Ser
A inteligĂȘncia nĂŁo Ă© o fundo do nosso ser. Pelo contrĂĄrio. Ă como uma pele sensĂvel, tentacular que cobre o resto do nosso volume Ăntimo, o qual por si Ă© sensu stricto ininteligente, irracional. BarrĂšs dizia isto muito bem: L’intelligence, quelle petite chose Ă la surface de nous. AĂ estĂĄ ela, estendida como um dintorno sobre o nosso ser mais interior, dando uma face Ă s coisas, ao ser – porque o seu papel nĂŁo Ă© outro senĂŁo pensar as coisas, pensar o ser, o seu papel nĂŁo Ă© ser o ser, mas reflecti-lo, espelhĂĄ-lo. Tanto nĂŁo somos ela que a inteligĂȘncia Ă© uma mesma em todos, embora uns dela tenham maior porção que outros. Mas a que tiverem Ă© igual em todos: 2 e 2 sĂŁo para todos 4. Por isso AristĂłteles e o averroĂsmo acreditaram que havia um Ășnico noĂ»s ou intelecto no Universo, que todos Ă©ramos, enquanto inteligentes, uma sĂł inteligĂȘncia. O que nos individualiza estĂĄ por trĂĄs dela.
Mas nĂŁo vamos agora espicaçar uma tĂŁo difĂcil questĂŁo. Baste o que foi dito para sugerir que em vĂŁo pretenderĂĄ a inteligĂȘncia lutar num match de convicção com as crenças irracionais, habituais. Quando um cientista sustĂ©m as suas ideias com uma fĂ© semelhante Ă fĂ© vital,