O Desporto Ă© a InteligĂȘncia InĂștil
O sport Ă© a inteligĂȘncia inĂștil manifestada nos movimentos do corpo. O que o paradoxo alegra no contĂĄgio das almas, o sport aligeira na demonstração dos bonecos delas. A beleza existe, verdadeiramente, sĂł nos altos pensamentos, nas grandes emoçÔes, nas vontades conseguidas. No sport – ludo, jogo, brincadeira – o que existe Ă© supĂ©rfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe hĂĄ-de escapar. NinguĂ©m pensa a sĂ©rio no resultado, e, enquanto dura o que desaparece, existe o que nĂŁo dura. HĂĄ uma certa beleza nisso, como no dominĂł, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inĂștil, o inconseguido do jogo. Pueri ludunt, como no primĂĄrio do latim…
Ao sol brilham, no seu breve movimento de glĂłria espĂșria, os corpos juvenis que envelhecerĂŁo, os trajectos que, com o existirem, deixaram jĂĄ de existir. Entardece no que vemos, como no que vimos. A GrĂ©cia antiga nĂŁo nos afaga senĂŁo intelectualmente. Ditosos os que naufragam no sacrifĂcio da posse. SĂŁo comuns e verdadeiros. O sol das arenas faz suar os gestos dos outros. Os poetas cantam-nos antes que desça todo o sol.
Textos sobre InĂșteis de Ălvaro de Campos
3 resultadosA Inutilidade de qualquer Esforço Desinteressado
Desde que me convenci da inutilidade de qualquer esforço desinteressado, nunca mais pensei em escrever um livro; limito-me a apontamentos. InĂștil por inĂștil, diminua ao menos a maçada. Estes apontamentos sĂŁo a respeito da polĂtica do futuro. ContĂȘm um plano polĂtico. NĂŁo serĂŁo adoptados na prĂĄtica, porque a prĂĄtica nĂŁo adopta, mas cria. Escrevo-os como se escrevesse um poema – e Ă© esta a Ășnica atitude razoĂĄvel que recomenda o prĂłprio teorista: considere-se poeta, ou, se nĂŁo, cale-se.
Ălvaro de
Uma ObediĂȘncia Passiva
O homem, bobo da sua aspiração, sombra chinesa da sua Ăąnsia inĂștil, segue, revoltado e ignĂłbil, servo das mesmas leis quĂmicas, no rodar imperturbĂĄvel da Terra, implacavelmente em torno a um astro amarelo, sem esperança, sem sossego, sem outro conforto que o abafo das suas ilusĂ”es da realidade e a realidade das suas ilusĂ”es. Governa estados, institui leis, levanta guerras; deixa de si memĂłrias de batalhas, versos, estĂĄtuas e edifĂcios. A Terra esfriarĂĄ sem que isso valha. Estranho a isso, estranho desde a nascença, o soI um dia, se alumiou, deixarĂĄ de alumiar; se deu vida, darĂĄ a si a morte. Outros sistemas de astros e de satĂ©lites darĂŁo porventura novas humanidades; outras espĂ©cies de eternidades fingidas alimentarĂŁo almas de outra espĂ©cie; outras crenças passarĂŁo em corredores longĂnquos da realidade mĂșltipla. Cristos outros subirĂŁo em vĂŁo a novas cruzes. Novas seitas secretas terĂŁo na mĂŁo os segredos da magia ou da Cabala. E essa magia serĂĄ outra, e essa Cabala diferente. SĂł uma obediĂȘncia passiva, sem revoltas nem sorrisos, tĂŁo escrava como a revolta, Ă© o sistema espiritual adequado Ă exterioridade absoluta da nossa vida serva.
Ălvaro de