Da Liberdade
A: Eis uma bateria de canhÔes que atira junto aos nossos ouvidos; tendes a liberdade de ouvi-la e de a não ouvir?
B: Ă claro que nĂŁo posso evitar ouvi-la.
A: DesejarĂeis que esse canhĂŁo decepasse a vossa cabeça e as da vossa mulher e da vossa filha que estivessem convosco?
B: Que espĂ©cie de proposição me fazeis? Eu jamais poderia, no meu sĂŁo juĂzo, desejar semelhante coisa. Isso Ă©-me impossĂvel.
A: Muito bem; ouvis necessariamente esse canhĂŁo e, tambĂ©m necessariamente, nĂŁo quereis morrer, vĂłs e a vossa famĂlia, de um tiro de canhĂŁo; nĂŁo tendes nem o poder de nĂŁo o ouvir nem o poder de querer permanecer aqui.
B: Isso Ă© evidente.
A: Em consequĂȘncia, destes uma trintena de passos a fim de vos colocardes ao abrigo do canhĂŁo: tivestes o poder de caminhar comigo estes poucos passos?
B: Nada mais verdadeiro.
A: E se fĂŽsseis paralĂtico? NĂŁo terĂeis podido evitar ficar exposto a essa bateria; nĂŁo terĂeis o poder de estar onde agora estais: terĂeis entĂŁo necessariamente ouvido e recebido um tiro de canhĂŁo e necessariamente estarĂeis morto?
B: Nada mais claro.
A: Em que consiste, pois,
Textos sobre Jogo de Voltaire
2 resultadosO Bem Supremo
Muito discutiu a antiguidade em torno do supremo bem. O que Ă© o supremo bem? Seria o mesmo que perguntar o que Ă© o supremo azul, o supremo acepipe, o supremo andar, o ler supremo, etc. Cada um pĂ”e a felicidade onde pode, e quanto pode ao seu gosto. (…) Sumo bem Ă© o bem que vos deleita a ponto de nos polarizar toda a sensibilidade, assim como mal supremo Ă© aquele que vos torna completamente insensĂvel. Eis os dois pĂłlos da natureza humana. Esses dois momentos sĂŁo curtos. NĂŁo existem deleites extremos nem extremos tormentos capazes de durar a vida inteira. Supremo bem e supremo mal sĂŁo quimeras.Conhecemos a bela fĂĄbula de CrĂąntor, que fez comparecer aos jogos olĂmpicos a Fortuna, a VolĂșpia, a SaĂșde e a Virtude.
Fortuna: – O sumo bem sou eu, pois comigo tudo se obtĂ©m.
VolĂșpia: – Meu Ă© o pomo, porquanto nĂŁo se aspira Ă riqueza senĂŁo para ter-me a mim.
SaĂșde: – Sem mim nĂŁo hĂĄ volĂșpia e a riqueza seria inĂștil.
Virtude: – Acima da riqueza, da volĂșpia e da saĂșde estou eu, que embora com ouro, prazeres e saĂșde pode haver infelicidade, se nĂŁo hĂĄ virtude.