Os que Morrem por Amor
Os que morrem por amor continuam a pertencer Ă lenda. Os seus funerais arrastam uma multidĂŁo piedosa, tal como decerto aconteceu na cidade de Verona, há seiscentos anos. Ainda que nesse tempo os costumes fossem bastante fáceis, a prática erĂłtica da juventude era muito mais modesta. Reflectindo melhor, Ă© de crer que a prĂłpria licença produzisse um tipo de pessoas orgulhosas da sua intimidade afectiva; o que, se nĂŁo Ă© virtude, algo se parece. Este orgulho da prĂłpria intimidade conduz a uma atitude hostil em relação a tudo o que pode burocratizar os sentimentos. Há um sociĂłlogo inclinado a crer que existe muito de romantismo burocrático no amor moderno. É possĂvel. E quando aparecem os contestatários dessa espĂ©cie de burocracia, como sĂŁo os Romeus e Julietas do Candal, a cidade fica-lhes agradecida. No campo dos afectos trata-se da luta obstinada que resulta do choque entre a vida privada e o regime governativo; entre um corpo animado de impulsos e uma autoridade explicada por leis. AtravĂ©s de inquĂ©ritos feitos nos meios juvenis para inquirir das transformações que se efectuam no âmbito das relações afectivas, deparam-se declarações bastante confusas. Elas pairam entre uma sinceridade elementar que descura a experiĂŞncia e teorias perfeitamente viciadas nos lugares-comuns do sĂ©culo.
Textos sobre Lendas de Agustina Bessa-LuĂs
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