Cada Homem Habita em Todos os Outros
Vossemecê aprendeu a desenhar vá-se lá saber onde e os seus desenhos parecem-se muito com as coisas, não haja dúvida. Mas nenhum homem consegue pôr o mundo inteiro num livro. Assim como um livro onde todas as coisas estivessem desenhadas não seria o mundo.
Muito bem, Marcus, respondeu o juiz.
Mas nĂŁo me desenhe a mim, disse Webster. Porque eu nĂŁo quero fazer parte do seu livro.
O meu livro ou outro livro qualquer, disse o juiz. O que há-de vir não se desvia nem um bocadinho do livro onde está escrito. Como poderia desviar-se? O livro seria falso, e um livro falso nem sequer merece tal nome.
VossemecĂŞ fala por enigmas como ninguĂ©m e eu nĂŁo vou terçar palavras consigo. SĂł lhe peço que nĂŁo ponha a minha venerável carantonha nesse seu caderno porque nĂŁo me agrada que ande a mostrá-la por aĂ, se calhar a estranhos.
O juiz sorriu. Seja no meu livro ou não, cada homem habita em todos os outros e em troca alberga-os em si e assim por diante numa infindável complexidade de ser e testenunha até aos confins do mundo.
Textos sobre Livros de Cormac McCarthy
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