Censura Amiga

A amizade penetra nos menores detalhes da nossa vida, o que torna frequentes as ocasiĂ”es de ofensas e melindres: o sĂĄbio deve evitĂĄ-las, destruĂ­-las ou suportĂĄ-las quando necessĂĄrio for. A Ășnica ocasiĂŁo em que nĂŁo devemos deixar de ofender um amigo, Ă© quando se trata de lhe dizer a verdade e de lhe provar assim a nossa fidelidade. Porque nĂŁo devemos deixar de sobreavisar os nossos amigos, ainda quando se trate de os repreender. E nĂłs mesmos devemos levar isto em boa vontade, quando tais repreensĂ”es sĂŁo ditadas pelo bem querer.
Todavia, sou forçado a confessĂĄ-lo, como disse o nosso TerĂȘncio no seu Adriana: «A benevolĂȘncia gera a amizade; a verdade, o Ăłdio». Sem dĂșvida a verdade Ă© molesta se produz o Ăłdio, este veneno da amizade. Mas a magnanimidade Ă©-o ainda mais, porque para a indulgĂȘncia culpĂĄvel, pelas faltas de um amigo, ela deixa-o precipitar-se nas suas ruĂ­nas. Mas a falta mais grave Ă© a que despreza a verdade e se deixa conduzir ao mal pela adulação. Este ponto reclama toda a nossa vigilĂąncia e atenção. Afastemos o ĂĄcido das nossas advertĂȘncias, a injĂșria dos nossos reproches; que a nossa complacĂȘncia (sirvo-me voluntĂĄrio da expressĂŁo de TerĂȘncio) seja farta de urbanidade;

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