O Talento na Juventude e na Velhice
Nada menos exacto do que supor que o talento constitui privilĂ©gio da mocidade. NĂŁo. Nem da mocidade, nem da velhice. NĂŁo se Ă© talentoso por se ser moço, nem genial por se ser velho. A certidĂŁo de idade nĂŁo confere superioridade de espĂrito a ninguĂ©m. Nunca compreendi a hostilidade tradicional entre velhos e moços (que aliĂĄs enche a histĂłria das literaturas); e nĂŁo percebo a razĂŁo por que os homens se lançam tantas vezes recĂprocamente em rosto, como um agravo, a sua velhice ou a sua juventude.
Ser idoso nĂŁo quer dizer que se seja necessĂĄriamente intolerante e retrĂłgado; e engana-se quem supuser que a mocidade, por si sĂł, constitui garantia de progresso ou de renovação mental. As grandes descobertas que ilustram a histĂłria da ciĂȘncia e contribuiram para o progresso humano sĂŁo, em geral, obra dos velhos sĂĄbios; e a mocidade literĂĄria, negando embora sistemĂĄticamente o passado, Ă© nele que se inspira, atĂ© que o escritor adquire (quando adquire) personalidade prĂłpria.
(…) A mocidade, em geral, nĂŁo cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice nĂŁo se opĂ”em; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida nĂŁo Ă© sĂł o entusiasmo dos moços;
Textos sobre Marchas de JĂșlio Dantas
2 resultadosO Progresso Aumenta a Vida e a Morte
NĂŁo desconheço que a velhice constitui, em grande parte, um preconceito aritmĂ©tico, e que o nosso maior erro consiste em contar os anos que vivemos. Com efeito, tudo nos leva a supor que a Natureza dotou o homem (nĂŁo falo jĂĄ nas longevidades da BĂblia) de vida mĂ©dia mais longa do que aquela que as estatĂsticas demogrĂĄficas acusam, e que, se morremos antes do termo normal da existĂȘncia, Ă© porque sucumbimos, nĂŁo a «morte natural» (a «morte fisiolĂłgica», de Metchnickoff), mas a «morte violenta», que Ă© a morte por acção destrutiva dos germes patogĂ©nicos. Como quer que seja, porĂ©m, parece-me incontestĂĄvel que o homem envelhece antes do tempo e morre, em geral, quando ainda nĂŁo chegou a meio do caminho da vida.
SerĂĄ o engenho humano capaz de opĂŽr uma barreira Ă marcha inexorĂĄvel da decrepitude? Talvez. O nosso organismo Ă© uma mĂĄquina; gasta-se, como todas as mĂĄquinas; e, por milagre da Natureza, ainda Ă© aquela que, funcionando permanentemente, consegue durar mais tempo. Contentemo-nos com a ideia de que o homem de hoje vive mais do que vivia na Antiguidade clĂĄssica e na Ă©poca medieval, mercĂȘ do progresso das tĂ©cnicas, do conforto moderno da existĂȘncia, da observação dos preceitos que a higiene,