Da Profundidade do EspĂrito
A profundeza Ă© o termo da reflexĂŁo. Quem quer que tenha o espĂrito verdadeiramente profundo, deve ter a força de fixar o pensamento fugidio; de retĂȘ-lo sob os olhos para considerar-lhe o fundo, e reduzir a um ponto uma longa cadeia de ideias; Ă© principalmente Ă queles a quem esse espĂrito foi dado que a clareza e a justeza sĂŁo necessĂĄrias. Quando lhes faltam essas vantagens, as suas vistas ficam embaraçadas com ilusĂ”es e cobertas de obscuridades. No entanto, como tais espĂritos vĂȘem sempre mais longe do que os outros nas coisas da sua alçada, julgam-se tambĂ©m mais prĂłximos da verdade do que os demais homens; mas estes, nĂŁo os podendo seguir nas suas sendas tenebrosas, nem remontar das consequĂȘncias atĂ© a altura dos princĂpios, sĂŁo frios e desdenhosos para com esse tipo de espĂrito que nĂŁo podem mensurar.
E, mesmo entre as pessoas profundas, como algumas o sĂŁo em relação Ă s coisas do mundo e outras nas ciĂȘncias ou numa arte particular, preferindo cada qual o objecto cujos usos melhor conhece, isso tambĂ©m Ă©, de todos os lados, matĂ©ria de dissensĂŁo.
Finalmente, nota-se um ciĂșme ainda mais particular entre os espĂritos vivazes e os espĂritos profundos, que sĂł possuem um na falta do outro;
Textos sobre Medida de MarquĂȘs de Vauvenargues
2 resultadosA MĂĄscara Falsa da Felicidade
Um erro sem dĂșvida bem grosseiro consiste em acreditar que a ociosidade possa tornar os homens mais felizes: a saĂșde, o vigor da mente, a paz do coração sĂŁo os frutos tocantes do trabalho. SĂł uma vida laboriosa pode amortecer as paixĂ”es, cujo jugo Ă© tĂŁo rigoroso; Ă© ela que mantĂ©m nas cabanas o sono, fugitivo dos grandes palĂĄcios. A pobreza, contra a qual somos prevenidos, nĂŁo Ă© tal como pensamos: ela torna os homens mais temperantes, mais laboriosos, mais modestos; ela os mantĂ©m na inocĂȘncia, sem a qual nĂŁo hĂĄ repouso nem felicidade real na terra.
O que Ă© que invejamos na condição dos ricos? Eles prĂłprios endividados na abundĂąncia pelo luxo e pelo fasto imoderados; extenuados na flor da idade por sua licenciosidade criminosa; consumidos pela ambição e pelo ciĂșme na medida em que estĂŁo mais elevados; vĂtimas orgulhosas da vaidade e da intemperança; ainda uma vez, povo cego, que lhe podemos invejar?
Consideremos de longe a corte dos prĂncipes, onde a vaidade humana exibe aquilo que tem de mais especioso: aĂ encontraremos, mais do que em qualquer outro lugar, a baixeza e a servidĂŁo sob a aparĂȘncia da grandeza e da glĂłria, a indigĂȘncia sob o nome da fortuna,