Meu Bebé para Dar Dentadas
Meu Bebé pequeno e rabino:
CĂĄ estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que estĂĄ pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chĂŁo!); e esse nĂŁo conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela Ă© muito mĂĄ, excepto numa cousa, que Ă© na arte de fingir, em que vejo que Ă© mestra.
Sabes? Estou-te escrevendo mas «nĂŁo estou pensando em ti». Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da «caça aos pombos»; e isto Ă© uma cousa, como tu sabes, com que tu nĂŁo tens nada…
Foi agradĂĄvel hoje o nosso passeio â nĂŁo foi? Tu estavas bem-disposta, e eu estava bem-disposto, e o dia estava bem-disposto tambĂ©m. (O meu amigo, Sr. A.A. Crosse estĂĄ de saĂșde â uma libra de saĂșde por enquanto, o bastante para nĂŁo estar constipado.)
NĂŁo te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. HĂĄ para isso duas razĂ”es. A primeira Ă© a de este papel (o Ășnico acessĂvel agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a segunda Ă© a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplĂȘndido,
Textos sobre Metades de Fernando Pessoa
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