A Nefasta Hiperdemocracia dos Nossos Tempos
NinguĂ©m, creio eu, deplorará que as pessoas gozem hoje em maior medida e nĂşmero que antes, já que tĂŞm para isso os apetites e os meios. O mal Ă© que esta decisĂŁo tomada pelas massas de assumir as actividades prĂłprias das minorias, nĂŁo se manifesta, nem pode manifestar-se, sĂł na ordem dos prazeres, mas que Ă© uma maneira geral do tempo. Assim (…) creio que as inovações polĂticas dos mais recentes anos nĂŁo significam outra coisa senĂŁo o impĂ©rio polĂtico das massas. A velha democracia vivia temperada por uma dose abundante de liberalismo e de entusiasmo pela lei. Ao servir a estes princĂpios o indivĂduo obrigava-se a sustentar em si mesmo uma disciplina difĂcil. Ao amparo do princĂpio liberal e da norma jurĂdica podiam atuar e viver as minorias. Democracia e Lei, convivĂŞncia legal, eram sinĂłnimos. Hoje assistimos ao triunfo de uma hiperdemocracia em que a massa actua directamente sem lei, por meio de pressões materiais, impondo suas aspirações e seus gostos.
É falso interpretar as situações novas como se a massa se houvesse cansado da polĂtica e encarregasse a pessoas especiais o seu exercĂcio. Pelo contrário. Isso era o que antes acontecia, isso era a democracia liberal. A massa presumia que,
Textos sobre Minoria de José Ortega y Gasset
2 resultadosO Homem-Massa
Numa boa ordenação das coisas pĂşblicas, a massa Ă© o que nĂŁo actua por si mesma. Tal Ă© a sua missĂŁo. Veio ao mundo para ser dirigida, influĂda, representada, organizada – atĂ© para deixar de ser massa, ou, pelo menos, aspirar a isso. Mas nĂŁo veio ao mundo para fazer tudo isso por si. Necessita referir a sua vida Ă instância superior, constituĂda pelas minorias excelentes. Discuta-se quanto se queira quem sĂŁo os homens excelentes; mas que sem eles – sejam uns ou outros – a humanidade nĂŁo existiria no que tem de mais essencial, Ă© coisa sobre a qual convĂ©m que nĂŁo haja dĂşvida alguma, embora leve a Europa todo um sĂ©culo a meter a cabeça debaixo da asa, ao modo dos estrĂşcios para ver se consegue nĂŁo ver tĂŁo radiante evidĂŞncia. Porque nĂŁo se trata de uma opiniĂŁo fundada em factos mais ou menos frequentes e prováveis, mas numa lei da «fĂsica» social, muito mais incomovĂvel que as leis da fĂsica de Newton. No dia em que volte a imperar na Europa uma autĂŞntica filosofia – Ăşnica coisa que pode salvá-la –, compreender-se-á que o homem Ă©, tenha ou nĂŁo vontade disso, um ser constitutivamente forçado a procurar uma instância superior.