A InfluĂȘncia das IlusĂ”es nas Nossas Vidas
Traçar o papel das ilusĂ”es na gĂ©nese das opiniĂ”es e das crenças seria refazer a histĂłria da humanidade. Da infĂąncia Ă morte, a ilusĂŁo envolve-nos. SĂł vivemos por ela e sĂł ela desejamos. IlusĂ”es do amor, do Ăłdio, da ambição, da glĂłria, todas essas vĂĄrias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantĂȘm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.
As ilusÔes intelectuais são relativamente raras; as ilusÔes afectivas são quotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusĂ”es fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao eterno abismo. NĂŁo lamentemos que tĂŁo raramente sejam submetidas Ă anĂĄlise. A razĂŁo sĂł consegue dissolvĂȘ-las paralisando, ao mesmo tempo, importantes mĂłbeis de acção. Para agir, cumpre nĂŁo saber demasiado. A vida Ă© repleta de ilusĂ”es necessĂĄrias.
Os motivos para não querer multiplicam-se com as discussÔes das coisas do querer.
Textos sobre Morte de Gustave Le Bon
5 resultadosOpiniÔes Influenciadas pelo Interesse
A maior parte das coisas pode ser considerada sob pontos de vista muito diferentes: interesse geral ou interesse particular, principalmente. A nossa atenção, naturalmente concentrada sob o aspecto que nos Ă© proveitoso, impede que vejamos os outros. O interesse possui, como a paixĂŁo, o poder de transformar em verdade aquilo em que lhe Ă© Ăștil acreditar. Ele Ă©, pois, freqĂŒentemente, mais Ăștil do que a razĂŁo, mesmo em questĂ”es em que esta deveria ser, aparentemente, o guia Ășnico. Em economia polĂtica, por exemplo, as convicçÔes sĂŁo de tal modo inspiradas pelo interesse pessoal que se pode, em geral, saber prĂ©viamente, conforme a profissĂŁo de um indivĂduo, se ele Ă© partidĂĄrio ou nĂŁo do livre cĂąmbio.
As variaçÔes de opiniĂŁo obedecem, naturalmente, Ă s variaçÔes do interesse. Em matĂ©ria polĂtica, o interesse pessoal constitui o principal factor. Um indivĂduo que, em certo momento, energicamente combateu o imposto sobre a renda, com a mesma energia o defenderĂĄ mais, se conta ser ministro. Os socialistas enriquecidos acabam, em geral, conservadores, e os descontentes de um partido qualquer se transformam facilmente em socialistas.
O interesse, sob todas as suas formas, não é somente gerador de opiniÔes. Aguçado por necessidades muito intensas, ele enfraquece logo a moralidade.
Uma Nação Sem Ideal Desaparece Rapidamente da História
Qualquer que seja a raça ou o tempo considerado, o objectivo constante da atividade humana foi sempre a pesquisa da felicidade, a qual consiste, em Ășltima anĂĄlise, ainda o repito, em procurar o prazer e evitar a dor. Sobre essa concepção fundamental os homens estiveram constantemente de acordo; as suas divergĂȘncias aplicam-se somente Ă idĂ©ia que se concebe da felicidade e aos meios de a conquistar.
As suas formas sĂŁo diversas, mas o termo que se tem em mira Ă© idĂȘntico. Sonhos de amor, de riqueza, de ambição ou de fĂ© sĂŁo os possantes factores de ilusĂ”es que a natureza emprega para conduzir-nos aos seus fins. Realização de um desejo presente ou simples esperança, a felicidade Ă© sempre um fenĂłmeno subjectivo. Desde que os contornos do sonho se implantam um pouco no espĂrito, com ardor nĂłs tentamos obtĂȘ-lo.
Mudar a concepção da felicidade de um indivĂduo ou de um povo, isto Ă©, o seu ideal, Ă© mudar, ao mesmo tempo, a sua concepção da vida e, por conseguinte, o seu destino. A histĂłria nĂŁo Ă© mais do que a narração dos esforços empregues pelo homem para edificar um ideal e destruĂ-lo em seguida, quando, tendo-o atingido, descobre a sua fragilidade.
Prazer e Dor SĂŁo as Ănicas Certezas da Vida
Os filĂłsofos tĂȘm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparĂȘncias. Possuiremos sempre, porĂ©m, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraĂsos e os infernos criados pelos cĂłdigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade nĂŁo pode ser contestada.
Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. NĂŁo Ă© o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso âeuâ. Se dissesse: âSinto, logo existoâ ao invĂ©s de: âPenso, logo existoâ, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fĂłrmula aplica-se a todos os seres e nĂŁo a uma fração apenas da humanidade. Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prĂĄtica da vida. Fornecem uma resposta segura Ă eterna pergunta tĂŁo repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, jĂĄ que a morte nos espera e o nosso planeta se extingarĂĄ um dia?
PorquĂȘ? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operĂĄrio, curvado sob o peso do trabalho,
A InfluĂȘncia dos Livros e dos Jornais
Os jornais e os livros exercem no nascimento e na propagação das opiniĂ”es uma influĂȘncia imensa, conquanto inferior Ă dos discursos. Os livros actuam muito menos que os jornais, pois a multidĂŁo nĂŁo os lĂȘ. Alguns foram, contudo, bastante poderosos pela sua influĂȘncia sugestiva para provocar a morte de milhares de homens. Tais sĂŁo as obras de Rousseau, verdadeira bĂblia dos chefes do Terror, ou A Cabana do Pai TomĂĄs, que contribuiu muito para a sanguinolenta guerra de secessĂŁo na AmĂ©rica do Norte. Outras obras como Robinson CrusĂłe e os romances de JĂșlio Verne exerceram grande influĂȘncia nas opiniĂ”es da juventude e determinaram muitas carreiras.
Essa força dos livros era, sobretudo, considerĂĄvel quando se lia pouco. A leitura da BĂblia no tempo de Cromwel criou na Inglaterra um nĂșmero avultado de fanĂĄticos. Sabe-se que na Ă©poca em que foi escrito Dom Quixote, os romances de cavalaria exerciam uma acção tĂŁo perniciosa em todos os cĂ©rebros que os soberanos espanhĂłis vedaram, finalmente, a venda desses livros.
Hoje, a influĂȘncia dos jornais Ă© muito superior Ă força dos livros. SĂŁo em nĂșmero incalculĂĄvel as pessoas que tĂȘm unicamente a opiniĂŁo do jornal que elas lĂȘem.