É Mais Simples e Mais Útil Adaptar-se Aos Outros
Supondo que só existiam hoje dois homens na terra que a possuissem sozinhos, e a dividam entre si, estou convencido de que nascerá logo entre eles algum motivo de discórdia, nem que seja pelos limites. Às vezes é mais simples e mais útil adaptar-se aos outros do que fazer os outros se adaptarem a nós.
(…) Há uma coisa que nunca se viu sob o céu e segundo todas as aparências, nunca se verá: é uma cidade pequena que não esteja dividida em partidos; onde as famílias sejam unidas e os primos se vejam com confiança; onde um casamento não gere guerra civil; onde a querela dos partidos não desperte a todo o momento, por fraude, incenso e pão bento, procissões e enterros; de onde se baniram os linguarudos, a mentira e a maledicência: onde se vejam falar juntos o juiz e o presidente da câmara, os eleitores e os assessores; onde o deão viva bem com o cónego, onde os cónegos não desdenhem os capelães e estes suportem os padres-mestres.
Os provincianos e os tolos estão sempre prontos a se zangarem e a pensarem que se está a zombar deles, ou a desprezá-los; nunca se deve arriscar uma brincadeira,
Textos sobre Motivo de Jean de La Bruyère
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Descer ao Nível do Outro
Há certas pessoas de certo estofo ou carácter com as quais nunca nos devemos meter, das quais não nos devemos queixar senão o menos que pudermos, contra as quais não é permitido termos razão.
Entre duas pessoas que tiveram uma violenta discussão, na qual uma tem razão e a outra não, o que a maior parte das pessoas que assistiram à discussão nunca deixam de fazer, para se dispensarem de julgar, ou por temperamento que sempre me pareceu deslocado, é condenar os dois: lição importante, motivo urgente e indispensável para fugir a oriente quando o tolo está no ocidente, a fim de evitar dividir com ele o mesmo agravo.