NĂŁo Posso o que Quero
Que graça será esperardes de mim propĂłsitos, em cousa que os nĂŁo tem para comigo? Pois, ainda que queira, nĂŁo posso o que quero; que um sentido remontado, de nĂŁo pĂ´r pĂ© em ramo verde, tudo lhe sucede assim; e «cada um acode ao que lhe mais dĂłi»; e mais eu, que o que mais me entristece Ă© contentamento ter, pois fujo dele, que minh’alma o aborrece, porque lhe lembra que Ă© virtude de viver sem ele. Porque já sabeis que mágoa Ă©: «vĂŞ-lo hás e nĂŁo o paparás». Por fugir destes inconvenientes,
Toda a cousa descontente
contentar-me sĂł convinha,
de meu gosto;
que, o mal de que sou doente,
sua mais certa mesinha
Ă© desgosto.Já ouvirĂeis dizer: «Mouro, o que nĂŁo podes haver, dá-o pela tua alma». O mal sem remĂ©dio, o mais certo que tem, Ă© fazer da necessidade virtude; quanto mais, se tudo tĂŁo pouco dura como o passado prazer. Porque, enfim, allegados son iguales los que viven por sus manos, etc. A este propĂłsito, pouco mais ou menos, se fizeram umas voltas a um mote de enche-mĂŁo, que diz por sua arte, zombando mais, que nĂŁo de siso (que toda a galantaria Ă© tirá-la donde se nĂŁo espera),
Textos sobre Necessidades de LuĂs de Camões
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