O DelĂrio pelo Isolamento e pelo ConvĂvio
O eremita volta as costas a este mundo; nĂŁo quer ter nada a ver com ele. Mas podemos fazer mais do que isso; podemos tentar recriá-lo, tentar construir um outro em vez dele, no qual os componentes mais insuportáveis sĂŁo eliminados e substituĂdos por outros que correspondam aos nossos desejos. Quem por desespero ou desafio parte por este carninho, por norma, nĂŁo chegará muito longe; a realidade será demasiado forte para ele. Torna-se louco e normalmente nĂŁo encontra ninguĂ©m que o ajude a levar a cabo o seu delĂrio. Diz-se contudo, que todos nĂłs nos comportamos em alguns aspectos como paranĂłicos, substituindo pela satisfação de um desejo alguns aspectos do mundo que nos sĂŁo insuportáveis transportando o nosso delĂrio para a realidade. Quando um grande nĂşmero de pessoas faz esta tentativa em conjunto e tenta obter a garantia de felicidade e protecção do sofrimento atravĂ©s de uma transformação ilusĂłria da realidade, adquire um significado especial. TambĂ©m as religiões devem ser classificadas como delĂrios em massa deste gĂ©nero. Escusado será dizer que ninguĂ©m que participa num delĂrio o reconhece como tal.
Textos sobre Ninguém de Sigmund Freud
2 resultadosQuando Chega uma Carta Tua
Quando chega uma carta tua todas as divagações acabam, e acordo para a vida. Todos os problemas estranhos deixam de ter importância, os misteriosos quadros de doenças se desvanecem, e acabam-se as teorias vazias «de acordo com o estado presente da ciĂŞncia», como elas sĂŁo chamadas. EntĂŁo o mundo fica tĂŁo acolhedor, tĂŁo alegre, tĂŁo fácil de compreender. A minha doce querida nĂŁo Ă© uma ilusĂŁo, ela nĂŁo tem que ser comprovada por testes quĂmicos; de facto ela pode ser observada a olho nĂş. Ainda bem que ela nĂŁo tem nada a ver com doenças – e espero que continue – excepto por ter sido suficientemente imprudente para tomar um mĂ©dico para amante. Oh Marty, Ă© muito mais gratificante ser um ser humano em vez de um armazĂ©m de certas experiĂŞncias monĂłtonas. Mas ninguĂ©m se pode permitir a ser um ser humano por uma hora a nĂŁo ser que tenha sido uma máquina ou um armazĂ©m por onze horas. E aqui chegámos, onde começámos.